Resistência: A banda sonora de toda uma geração


É um dos raros casos em que uma banda de ‘covers’ merece tal destaque aqui no Meia de Rock. O leitor já sabe que se trata dos Resistência. Ou por estar a par do cartaz da Festa do Chicharro, ou por ter lido o título do artigo.

Com nomes consagrados como Pedro Ayres Magalhães, Tim, Miguel Ângelo e Olavo Bilac, os Resistência assentam o seu reportório essencialmente em temas destes artistas com algumas  incursões em outras bandas. Um destes casos, que marcou a década de 90, é o tema original dos Sitiados, “A noite”. Esta versão dos Resistência ganhou tal dimensão que a música mais facilmente lhes é atribuida do que aos próprios autores. Acontece o mesmo com o tema ” Amanhã é Sempre Longe Demais” dos Rádio Macau. Mas não pensem que são apenas dois acasos fortuitos. Quem nunca disse que gostava de “Nasce Selvagem” ou “Não sou o único” dos Resistência? Pois… na verdade, são temas dos Delfins e de Xutos & Pontapés, respetivamente.

Além da qualidade dos músicos, a escolha de temas é bem feliz. E os arranjos? [Estou a fazer aquele gesto com a mão que os ‘chefs’ franceses fazem quando a comida está ‘magnifique’] Os arranjos são soberbos, ou não estivesse lá o grande Pedro Ayres Magalhães (Heróis do Mar, Madredeus, Corpo Diplomático). Se tivesse nascido noutro país, seria, sem dúvida, Sir Pedro Ayres Magalhães.

Em 2012 é lançada a coletânea “Resistência – as vozes de uma geração”, que é, no fundo, um apanhado dos dois discos anteriores: “Palavras ao Vento” (1991) e “Mano a Mano” (1992). Essa coletânea tem um nome feliz! Essa geração é a minha. Cresci nessa década, fiz-me adolescente e pré-adulto. Fui ‘teenager’ ao som de Resistência.

Em 2014, a banda lança “Horizonte”. Um trabalho que, apesar da empatia imediata com o tema “Ser Maior” – que já era ‘maior’ no catálogo dos Delfins – não tem tanto significado para mim como os álbuns anteriores.

Tão poucos projetos desta natureza souberam enaltecer a música portuguesa e aproveitar o melhor dos seus participantes, como os Resistência. E mais nenhum conseguiu ser a banda sonora de uma geração.

Os Resistência arrancam quando os seus intervenientes estavam a atingir o auge da carreira. Parece-me que voltam agora como uma espécie de prenúncio de final de carreira nos outros projetos. Um regresso a casa, que embora não seja a sua, foi onde sempre se sentiram bem.

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