Chega de Saudade de João Gilberto
O pai da Bossa Nova deixou-nos. O pai da Bossa nova que não tocava Bossa Nova, mas sim “um samba muito moderno, dissonante, minimalista, numa combinação perfeita entre voz e violão”, que não deixava de ser samba. João Gilberto recusava este epíteto, pelo que foi o “fundador” de uma ‘coisa’ que ele próprio não professava.
Mas professava um estilo minimalista, melódico e harmonioso de tocar e cantar. Como foi dito um certo dia por Caetano Veloso: “melhor do que o silêncio, só João”.
No meu imaginário, João Gilberto seguiu Tom Jobim, muito por força do facto de que era de Jobim grande parte dos temas que Gilberto interpretou. Mas na verdade, foi a maneira ritmicamente pausada com que atacava as cordas do violão, que inspirou Jobim a compor os temas que compôs. E assim nasce o seu disco de estreia, “Chega de Saudade”, em 1958. Um novo género musical acabara de nascer.
Essa “new trend”, ou nova tendência, ou como se diz em brasileiro, Bossa Nova, não só ganhou popularidade no Brasil, como inclusive tornou-se um movimento mundial associado ao jazz!
E esta relação acontece porque João Gilberto gravou e lançou um disco com Stan Getz intitulado precisamente “Getz/Gilberto”, o disco que transportou a sua “invenção” para o mundo. Foi a internacionalização da Bossa Bova.
Gilberto influenciou Jobim, que compôs para Gilberto interpretar. Gilberto acompanhou Getz na reinvenção do jazz, que internacionalizou a Bossa Nova. João Gilberto foi ídolo e referência de Caetano Veloso, e por extensão, todo o clã Veloso. Confesso que sempre achei João Gilberto uma figura menor no panteão brasileiro. Infelizmente, foi preciso a sua despedida para eu perceber que sem ele, os grandes teriam sido pequenos.
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Foto: Direitos Reservados
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