A felicidade em forma de música no Azores Burning Summer


A lua lá no alto, crescendo, e um sem fim de estrelas enquadravam aquele pequeno anfiteatro natural. Plantas vivas por todo lado, focos de luz colorida projectados na envolvente, um mercadinho de artesanato e o grande boneco de madeira sentado no topo da plateia deixavam no ar um cheirinho irresistível a festival. A música ainda ia longe, mas algo começava a desenhar-se – o Azores Burning Summer tem mesmo algo de especial.

Com a particularidade de vermos artistas a entrarem em palco antes do tempo – algo provavelmente inédito em festivais nos Açores, mas também evitável para bem do público – a noite fez-se de muita música. Lavoisier trouxe a sua música portuguesa de tradição reinventada com a presença de um intérprete de língua gestual portuguesa, Adrian Sherwood apresentou um set de muito reggae e Serial Killaz elevaram o ritmo com o seu drum and bass, mas os grandes destaques da noite não podiam deixar de ir para Capitão Fausto e Branko.

Uma espécie de retro pop rock, de farto cabelo encaracolado, casaco de cabedal, sapato brilhante, bigode e patilhas invadiu o Azores Burning Summer. Após uma hora de música incrivelmente bem executada, cheia de energia e repleta de boa disposição é impossível não se sentir invadido por aquele sentimento de felicidade que os Capitão Fausto teimam em deixar quando abandonam o palco. Para os fãs da banda não faltaram as enormes “Verdade”, “Amanhã Tou Melhor”, “Santa Ana” ou “Morro na Praia”, mas a verdade é que os Capitão Fausto dão um espectáculo que ultrapassa todo e qualquer conhecimento das suas músicas – este é mesmo para toda a gente. “É um prazer voltar a esta ilha magnífica”, chuta Tomás Wallenstein – o prazer é todo nosso!

Num espectro completamente diferente tivemos o inigualável Branko. Inigualável? Sem dúvida! Branko entrega uma actuação incrível, com verdadeiras versões das suas já fantásticas músicas de influências mil, numa autêntica viagem pelo mundo da música de dança, sempre com uma batida limpa e altamente viciante. Mas a verdade é que aqui há muito mais que música e dança, há um espectáculo completamente viciante.

“Paris – Marselha” abriu a actuação, acompanhada da projecção de imagens de incrível realização da bela Lisboa. As imagens vinham de “Atlas Unfolded”, o fantástico documentário que acompanha Branko por todo o mundo na produção do seu primeiro álbum a solo, e viriam a ser um autêntico vício ao longo daquelas curtas duas horas. Aqui dança-se, é inevitável, mas também há um espectáculo para ver com atenção, há uma estória a ser contada. A dita projecção, sincronizada ao milímetro, ao nível de lip-sync entre as imagens e os sons da mesa, leva-nos numa viagem entre Nova Iorque, Lisboa, São Paulo, Amesterdão e Cidade do Cabo, acompanhando Branko na sua jornada em busca de influências, colaborações e novos sons para a sua distinta música de dança.

O Azores Burning Summer veio para ficar. Ao fim de três edições começa a ganhar aquilo que faz um festival verdadeiro – a sua identidade. Aqui temos um público interessado, um recinto bem projectado e um festival equilibrado, com uma missão para além da música. Aqui há também uma preocupação com o Ambiente, com a realização de interessantes ecotalks e utilização de copos reutilizáveis, sem nunca esquecer o foco do festival – a música que traz felicidade. Hoje continua a festa com Surma, Medeiros/Lucas, Bonga, Sensible Soccers e muito mais.

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Foto: © Roberto Batista

2 Comments

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  1. 1
    Ana Batista

    “mas a verdade é que os Capitão Fausto dão um espectáculo que ultrapassa todo e qualquer conhecimento das suas músicas – este é mesmo para toda a gente.”, tão verdade o que dizes Manuel, eu não conhecia nenhuma música, mas adorei cada segundo!

  2. 2
    Roberto Batista

    Foi fantástico!!! Nunca os tinha visto ao vivo, foi de facto uma grande surpresa, ah o autor da foto também é muito bom: 🙂
    felicidades para o projecto “Meia de Rock” Abraço.

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