Agulha de Vinil: Nick Cave and the Bad Seeds – Push The Sky Away


erectieapotheek24

Tendo sido muito aclamado pela crítica, este é o 15º álbum de Nick Cave and the Bad Seeds nos seus 30 anos de carreira, e mesmo assim consegue diferenciar-se de todos os seus anteriores registos.

Primeiro que tudo os aspetos visuais: a capa do álbum é composta pelo próprio Nick Cave, ao lado da modelo Susie Bick, nua, com quem é casado. Para quem conhece os trabalhos anteriores da banda, agora já não existem distorções nas guitarras, nem gritos nem baterias pesadas. Mantém-se sim, um espírito pesado e sombrio, numa mensagem global que eu pessoalmente interpretei como se o autor quisesse dizer: “Depois da tempestade, vem a bonança e depois da bonança vem isto”. O álbum é composto por 43 minutos de grandes baladas que se vão associando umas às outras, como se cada faixa fosse apenas mais um membro do corpo do álbum. Na verdade, foi isso que me chamou a atenção: a sua música, e não tanto as letras. Em termos líricos vai ao encontro de uma mentalidade que eu não pactuo, de um pessimismo conformado e indiferente em que por vezes, se limita a misturar citações aleatórias, noutras vezes aborda assuntos ateístas, e procura de uma forma negra o absurdo do vazio e do desconhecido como no tema “Higgs boson blues”, comentando  superficialmente os mistérios do bóson de Higgs, juntando ao assunto o assassinato de Martin Luther King, entre outras “aleatoriedades”, ou falando em sereias, em “Mermaids” e “Wide Lovely Eyes” que enfeitiçam os homens e os afogam numa atração irrefletida. Não obstante, a música é viciante, à medida que se vai descobrindo a pouco e pouco um trabalho musical que, este sim, foi trabalhado e pensado até ao último pormenor. A minha preferida, “Jubilee Street”, é mais um tema que nos encontra já “prevenidos” das faixas anteriores (como disse, o álbum está muito bem composto e equilibrado em termos musicais e coaduna-se completamente), sobressaindo os violinos num crescendo que explode por fim com todos os instrumentos.

Diferente do que costumo ouvir, este álbum foi, em termos exclusivamente sonoros, uma agradável surpresa, mantendo incólume a ideia de que Nick Cave é inovador e original em tudo o que faz.