Álbuns de Natal para acompanhar o bacalhau
Não há Natal sem música. Quase todos os grandes artistas compuseram ou adaptaram uma música específica para a época. A equipa do Meia de Rock deixa aqui as suas preferências. Seja um clássico, um tema infantil, ou algo menos óbvio, todos temos aquele álbum ou aquela música de Natal que nos toca de forma especial, e a que voltamos, ano após ano, vezes sem conta, nesta época. Esta é a banda sonora do nosso Natal.
Francisco Zambujo
Confesso que gostaria de falar de um disco de Dylan, mas o único que publicou dedicado à quadra é uma desgraça. Abstenho-me pois, e passo a “Noël”, de Joan Baez, publicado quase quarenta anos antes, em 1966. Pouca gente o escutará hoje. Não será Joan Baez no seu melhor, mas é mesmo assim um disco digno, e o primeiro em que se faz acompanhar de instrumentação vária em vez da solitária guitarra acústica dos primeiros trabalhos. Intercala temas famosos como o clássico “The Little Drummer Boy” ou o não menos clássico “Ave Maria” de Schubert. Mas há sobretudo, na minha opinião, dois temas quase desconhecidos e que merecem fazer as honras ao bacalhau cozido: “Down in the Forest” e “Away in a Manger”, com a orquestra a apoiar uma voz simples e bonita, sem aqueles “esganiçados” que às vezes irritam. Mas não quero que se pense que apenas cito discos da “Primeira Guerra”. Um grupo que muito prezo, os Dandy Warhol, publicou um EP em 1995 com o já citado clássico “The Little Drummer Boy”. Contudo, não se conte com qualquer ortodoxia por parte dos Dandy. No vídeo, as imagens do grupo a interpretar o tema, onde apenas a voz de Taylor-Taylor sobressai do alarido das guitarras, são intercaladas com as imagens de um Pai Natal de cuecas brancas e barrete vermelho, que vai dando uns passos de dança ao som da canção. Um Natal menos próprio? Não direi isso, é antes bastante divertido e vale a pena ver. E a quadra é sinónimo de alegria, pelo menos para quem não está em Alepo.
Lázaro Raposo
Neste especial de Natal saiu-me o brinde. Não é que tenha algo contra as músicas de Natal, mas preferia escrever algo que não fosse sobre o tamborzinho de um menino ou a cor do nariz de certa e determinada rena. Escolhi um tema em específico que foi lançado em single e nunca saiu em álbum. Refiro-me a “Thank God it’s Christmas”, dos Queen. Quem conhece bem a banda sabe que é uma raridade a existência de singles “soltos”. Este é um deles. Data de novembro de 1984, nove meses depois do disco “The Works”, o que faz com que, cronologicamente, mas também em termos estilísticos, se aproximasse muito deste álbum. O tema tem outro pormenor muito curioso: é fruto de uma colaboração rara entre Brian May e Roger Taylor. Onde é que já tinha havido essa colaboração? “The Works”, precisamente. O tema faz parte do “Greatest Hits III” (1999) e mais tarde entra na edição deluxe do “The Works”. Não é, certamente, a canção de Natal mais popular, mas é a que tem a voz de Freddie Mercury!
Hugo Gonçalves
Gary Hoey é, provavelmente, um dos magos da guitarra mais subvalorizados no espetro rock. Com mais de vinte álbuns de estúdio a seu cargo, na sua grande maioria compostos por músicas instrumentais, encontramos três dedicados exclusivamente ao Natal. Em 1995 foi lançado “Ho! Ho! Hoey!”, o primeiro álbum da trilogia com o mesmo nome. Em 1997 e 1999 foram lançados os álbuns seguintes, “Ho! Ho! Hoey! II” e “Ho! Ho! Hoey! 3”, respetivamente. O primeiro disco foi lançado a partir de um desafio do produtor Dave Kaplan ao qual Hoey respondeu afirmativamente após alguns anos de insistência do primeiro. Gravado no seu estúdio caseiro, o álbum superou as expetativas do guitarrista o que levou ao lançamento dos álbuns subsequentes. Para quem gosta de guitarra e música instrumental, com uma pitada de rock aqui e ali, esta é a coleção perfeita para a época em que nos encontramos.
Manuel Silva
Ornamentada com adornos natalícios, a capa onde se pode ler “Natal – Música e Canções” faz antever o verdadeiro álbum de natal. É simples, popular, de qualidade duvidosa e ‘cheesy’, muito ‘cheesy’. Na verdade esta colectânea editada pela Vidisco conta com os clássicos de natal para dar o toque de natal ao bacalhau com todos. “Truz! Truz! Truz! É natal”, “ Pinheirinho” e “Nasceu o Menino” trazem a magia para a mesa cheia, com a família junta, lareira acesa e com aquele odor a cedro que consegue percorrer toda a casa. Encontrar um exemplar nos dias que correm será certamente difícil, já que 1990 é o ano de edição, mas na verdade este não é mais que um poço de memórias. Minhas, claro! O leitor deverá procurar as suas – estão no seu álbum de natal, seguramente. Mas uma coisa é certa, não há natal sem ele.
João Cordeiro
Se este artigo tivesse sido escrito há mais de um ano, estaria aqui a falar sobre um álbum de Mariah Carey, porque os discos de Natal, mais do álbums de músicas, são álbuns de memórias, e “Merry Christmas” (1994) guarda as recordações mais ternas da magia do meu Natal. A começar pela sempre comovente “All I Want for Christmas is You”. Mas a vida segue e cria novas tradições. E o ano passado surgiu uma que veio para ficar: “Christmas Album”, dos Jackson 5. Está lá a alma da Motown Records, a voz brilhante de um miúdo de 12 anos que viria a ser o ‘rei do pop’, e versões empolgantes dos grandes clássicos. Lá para fevereiro ainda estarei a cantarolar “Give Love on Christmas Day”.
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