All in… com Silence Becomes it


Quem joga Poker (eu não, sou muito forreta para isso)  está mais familiarizado com a expressão “All in”. “All in” é quando um jogador joga as fichas todas. Eu uso essa expressão para classificar aqueles álbuns em que as músicas estão “todas dentro”. São aqueles álbuns, que começamos a ouvir, e ouvimos e vamos ouvindo e acabamos sem ter dado por isso, sem ter tido a necessidade de passar a faixa X ou Y à frente. Todas as músicas valem individualmente e todas valem pelo conjunto.Um dos primeiros álbuns “All in” da minha vida foi Silence Becomes It dos leirienses Silence 4. Lançado em 1998 foi o álbum de estreia da banda que popularizou David Fonseca e que, com o devido respeito por Tozé Pedrosa (bateria) e Sofia Lisboa (voz), contava ainda com outro grande talento, Rui Costa no baixo (vale a pena escutar Breeders só para ter uma ideia).

Silence Becomes It começa com o “Goodbye Tomorrow“, um 3/4 marcado no ride ate a entrada da guitar acústica que é a característica predominante do álbum e da banda, para juntar tudo num poderoso refrão cantado a 2 vozes.

O desfile de grandes temas prossegue com “Borrow”, aquele que foi o primeiro single do álbum, o energético e profundo “Dying Young” (” …Our problems start when we don’t die young“…), “Old Letters“, o outro single, “My friends”, “We“( tem o melhor groove de Tozé Pedrosa em todo o albúm), e continua tema atrás de tema, até terminar com “Teeth against the glass”.( Tem uma faixa escondida, mas não me vou debruçar sobre essa ).

Pelo meio duas preciosidades. “Sextos Sentidos” e ” Eu não sei dizer”. São os únicos temas em português e …não ficam em nada atrás dos restantes temas. Estão ambas com muitos bons arranjos e “Sextos Sentidos” inclusive conta com a presença de Sérgio Godinho, um pequeno “pormaior” que catapulta logo qualquer tema para outra dimensão.

Também há espaço para uma cover, “A Little Respect” da banda britânica Erasure, que aliás também foi um dos temas que mais popularidade atingiu naquele final dos anos 90 em Portugal. Vale a pena ouvir a versão original e comparar.

Todas as músicas têm uma personalidade forte e única, como se fosse um best of logo no arranque de carreira. Aliás, o próprio David Fonseca ao fazer a seleção de quais as músicas do vasto reportório a gravar sugeriu isso mesmo, que o albúm se chamasse Best of Silence 4. Não ficou com esse nome, mas ficou na mesma um álbum de estreia fenomenal, que lançou um David Fonseca com uma voz poderosa e um excelente liricista ( apesar de às vezes pensar que ele deve ser a pessoa com mais desgostos amorosos no mundo, a julgar pelas suas letras).

Agora podem não achar nada de novo, mas naquela época quando surge do nada uma banda portuguesa com um frontman a cantar maioritariamente em inglês e a tocar guitarra acústica, mas mais que isso, a ausência de guitarra eléctrica, era algo completamente fresco para os nossos ouvidos. As 5 platinas alcançadas mostram um pouco o fenómeno que foi e o facto de que quase 15 anos depois, ao recuperar o Silence Becomes It para este artigo as músicas parecerem tão atuais e envolventes como na altura. 

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