Azores Burning Summer: este festival não é para massas
Quando a grande maioria dos festivais de música tem como objetivo primordial crescer – em quantidade de público e em receitas – há quem prefira abraçar o lema “less is more”. Sem cedências a facilitismos e sem criar uma salada russa musical, ao fim de apenas três edições, o Azores Burning Summer está a conseguir criar uma identidade própria, não só no que diz respeito à escolha dos artistas, mas também na construção de um conceito que vai muito além da música.
Ecologia, ambiente e sustentabilidade são verdadeiros ‘mantras’ de um festival que se assume como ativista. Quem não se recorda do impacto que tiveram as “eco talks” – painéis de debate em torno de questões ambientais – no âmbito do processo de construção da central de incineração de São Miguel? Foi neste debate que “estalou o verniz” entre o presidente da autarquia da Ribeira Grande, Alexandre Gaudêncio, e o presidente da Associação de Municípios de São Miguel, Ricardo Rodrigues.
Foi aqui que germinou a semente do movimento “Salvar a Ilha”, que obrigou os órgãos de comunicação social e a comunidade em geral a prestar mais atenção esta matéria e a discutir alternativas à incineração de resíduos.
Ontem, ao longo da tarde, houve debates sobre agricultura, mar, resíduos, turismo e mobilidade.
Deixemos a conversa fiada e vamos à música. Ontem, o palco esteve por conta de Samba sem Fronteiras, The Big Muffin Orchestra, Lavoisier e Capitão Fausto.
Hoje, são os Anona a dar os primeiros acordes. Com residência permanente no Arco 8, a banda junta três experientes músicos açorianos – Ricardo Reis, João Silvestre e Paulo Bettencourt – com ‘backgrounds’ musicais distintos. O que os une? O risco do desconhecido e o prazer da improvisação.
Depois é a vez de Surma. One-woman-band que não vai ter mãos (nem pés) a medir para controlar teclas, baixo, samplers, e uma infinidade de botões que vão moldar o som que vai pairar no Porto Formoso lá pela hora do lusco-fusco.
Já com o sol posto, e (esperamos nós) sob um céu estrelado, os marinheiros que descobriram o caminho para a “Terra do Corpo”, os açorianos Carlos Medeiros e Pedro Lucas, vão silenciar o Azores Burning Summer com as suas canções densas e profundas.
Se pensa que o mundo pára para ver Bonga, está redondamente enganado. Pelo contrário, muito poucos conseguem permanecer imóveis durante o show de ritmos africanos e muita alegria nas mãos daquele simpático e incrivelmente enérgico septuagenário. Não há vivalma que não reconheça aquela “Mariquinha” ou até a “Lágrima do Canto do Olho”, mas Bonga ultrapassa até os seus êxitos, Bonga faz-nos dançar até cair, do primeiro ao último momento do espectáculo.
Depois do saltinho a Angola pela mão de Bonga, chega a viagem a um universo único, onde se encontram mundos e imaginários que nos trazem a verdadeira “Clausura” do ser. Os Sensible Soccers trazem ao Azores Burning Summer “Villa Soledade, álbum capaz de nos levar a recônditos sítios, guiados por uma electrónica hipnotizante, por sintetizadores mágicos e crescendos galácticos. Vê-los é acessório, ouvi-los é essencial, fechar os olhos e deixar-nos levar neste som único é inevitável.
Lá para o fim da noite – talvez já quase no início do dia seguinte – chega o momento que inspirou o nome do festival: em jeito de ritual mítico, queima-se uma escultura em madeira, e com o mesmo fogo queima-se também o verão de 2017.
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Todas as informações sobre o Azores Burning Summer aqui!
Programa (Parque dos Moinhos):
18H DJ Set – Laranjinha
20H Concerto – Anona
21H Concerto – Surma
22H Concerto – Medeiros/Lucas
23H Concerto – Bonga
00H Concerto – Sensible Soccers
02H DJ Set – Coldcut
04H DJ Set – Mike Stellar presents Serendipity
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Foto: Bonga © Vera Marmelo
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