“Capitão Fausto têm os Dias Contados”. Será?


À partida, a ironia não podia ser maior: uma banda jovem, com uma carreira impressionante, em contínua fase ascendente, anunciar o seu fim através de um enigmático título de um novo álbum: “Capitão Fausto Têm os Dias Contados”. Será mesmo?

Os Beatles são, porventura, a banda mais frequentemente referenciada como influência na sonoridade de artistas em todo o mundo. E, se no caso dos Capitão Fausto, esta influência – que o baixo Hofner de Domingos Coimbra sempre deixou perceber – era súbtil nos dois primeiros álbuns, agora, parece clara, e parece vir de um álbum em particular: “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.

Tal como a ‘obra prima’ dos Beatles, “Capitão Fausto Têm os Dias Contados” pode ser considerado um álbum conceptual – quer esta tenha sido uma escolha intencional, ou não – uma vez que há um tema que parece ser transversal a todo o disco: a chegada à idade adulta – não à maioridade legal, dos 18 anos, mas à idade que exige responsabilidade, independência e escolhas.

“Saber que aos 26 não posso mais empatar, morro na praia a vinte passos de ser um gajo formado, um gajo pronto a vingar”. O álbum marca esta encruzilhada, de dúvidas e angústias, em que se olha para trás, para o que se fez, e se olha para a frente, para o que se quer fazer. “Sair debaixo das saias da mãe, onde se está tão bem” e passar a ter “o fisco à porta” é crescer.

A frase com que termina o álbum – “Nunca esquecer que a mocidade chegou ao fim” – não deixa dúvidas: afinal não é ironia, os Capitão Fausto têm mesmo os dias contados. A banda continua, mas eles nunca mais serão os jovens estudantes sem responsabilidades. Agora são adultos. Felizmente, esta condição nunca foi obstáculo para continuar a escrever grandes canções!

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