Como sempre, a Maré de Agosto não desilude
O que é a Maré de Agosto? Alguns dirão que é o maior evento musical de Santa Maria, outros que é o mais antigo festival português em actividade consecutiva. Tudo verdade, mas a Maré é mais que isso, e apesar de parecer – e ser – redundante, Maré é Maré. Apenas isso. Tão pouco, mas tanto numa só palavra. A única que pode descrever este único festival. Festival onde as águas quentes e areias douradas da Praia Formosa se fundem com a fantástica música que vem de todas as partes do mundo e aterra no tecto do Bar da Maré. Festival onde o cartaz é acessório, onde a selecção musical é garantida e se torna numa oportunidade de conhecer novas bandas. Festival onde ao final de três dias já se conhecem as caras dos parceiros de festa, onde se fazem verdadeiras amizades. Este é o verdadeiro espírito de Maré – o Spirrit – que contagia quem vem à Praia Formosa nestas trinta e uma edições de Maré de Agosto.
No dia de abertura da Maré houve muito boa música nas mãos do solitário Stu Larsen com a sua guitarra e com o reggae jamaicano de Protoje And The Indiggnation, mas a surpresa da noite estava guardada para Capicua. Capicua foi um verdadeiro show, muito por culpa da incrível projecção que enquadrava o palco. Ali materealizavam-se os rabiscos aparentemente descuidados de Vitor, o desenhador de serviço. “Rabiscos” estes que ganhavam vida e não deixavam ninguém indiferente. Cada gravura desenhada em directo era o espelho das rimas que capicua debitava incessantemente, com uma energia fora de comum e o acompanhamento de uma batida muito bem construída, repleta de musicalidade.
Já o segundo dia ficou marcado pelo regresso de Sérgio Godinho ao Palco Maré, que acompanhado da sua fantástica banda e munido da sua inconfundível voz, mostrou aquilo que é óbvio em todos os seus álbuns: não é uma carreira de mais de quarenta anos e repleta de grandes êxitos que o faz parar de evoluir e manter-se sempre actual. Também inesquecível foi a actuação dos inconfundíveis Crassh, que de tubos, baldes e vassouras fazem instrumentos e dão um divertidíssimo espectáculo musical, repleto de teatralidade. Menos destaque tiveram os Koza Mostra, que ainda assim conseguiram levar toda a plateia a saltar com os seus sons balcãs fundidos com rock.
Para fechar o festival, como é habitual, houve algo único – Kissmet. Homens de turbante, em vestes brilhantes, trouxeram os sons típicos da música indiana a Santa Maria, em fusão com sons mais chegados ao rock. Simplesmente memorável, não só pela música mas pela fantástica interacção com o público, admirável energia e felicidade devolvida a quem viveu três fantásticos dias de Maré. No último dia houve também tempo para os Brass Wires Orchestra e os seus singulares sopros, e para a simplicidade de Michael Kiwanuka.
Aquele que é o festival que aguardamos com mais ansiedade todos os anos já passou. O facto da Maré ser baseada na descoberta de bandas, de saber que teremos um espírito que só aqui existe, de saber que aquela praia de areias douradas vai estar à nossa espera, torna este um dos poucos festivais que merece visitas consecutivas, anos a fio, sem duvidar por um segundo, sem ser necessário consultar sequer o cartaz. Para o ano há mais!
Menos público não afecta a festa
Numa Maré de Agosto com muito menos gente, principalmente no que diz respeito ao parque de campismo e provavelmente fruto do grande boom de eventos nas outras ilhas do arquipélago, o espírito não se perdeu e provavelmente até ganhou com a menor confusão.
O campismo é também chave neste festival. É lá que convivemos dia-a-dia com os nossos vizinhos temporários que se tornam amigos. Foi lá que este ano podemos ver e ouvir horas a fio jam sessiions dos mais variados campistas, onde curiosamente se inseriam os ON.
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Fotgrafias: Fotopepe
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