Agulha de Vinil: Em memória de Bernardo Sassetti
O que seria da música se Mozart tivesse vivido menos 5 anos? Estaríamos privados da Flauta Mágica. E se tivesse vivido com saúde mais uns 10 anos? Nem quero imaginar as obras primas que o mundo teria em suas mãos neste momento. É um pouco como o que sinto em relação a Bernardo Sassetti. Há menos de um ano, fomos privados da música de um dos melhores pianistas portugueses de sempre em Portugal. Com apenas 41 anos de idade, Bernardo Sassetti deixa-nos uma obra musical diversa e abrangente, sempre com o seu toque de Midas, numa incursão aos aspectos melódicos e harmónicos do seu instrumento.
O envolvimento de Bernardo Sassetti com a música começa desde muito cedo, com estudos de piano clássico aos 9 anos. Possuía uma sólida e enriquecida formação musical, tendo-se dedicado muito cedo ao jazz e participando em inúmeros projetos nacionais e internacionais. Para além do piano, envolveu-se noutros trabalhos artísticos, sendo compositor de músicas para cinema, e um grande fotógrafo. Acima de tudo era um homem da arte, da introspeção e da busca. Também na música não se resignou ao seu estilo de eleição, o jazz, tendo colaborado com músicos desde Carlos do Carmo a Da Weasel. Com Mário Laginha e Pedro Burmester tocaram música de grande cumplicidade, em que cada pianista se evidenciava no seu estilo. Foi aí que tardiamente descobri Bernardo Sassetti, naquela diferença que ele evidenciava, naquele swing único e característico que ele possuía. Quando tocava, sabíamos logo que era ele, mesmo sem o ver, talvez não pela sua técnica mas pela sua criatividade única.
Outra faceta de Sassetti que todos os músicos com quem trabalhou salientam era o seu entusiasmo, segundo Sérgio Godinho “um entusiasmo infantil – infantil no sentido mais nobre da ingenuidade, de pureza”, na forma como encarava a música.”
Esteja onde estiver agora, e embora tenha deixado o mundo demasiado cedo, ficamos com um registo musical amplo e diversificado, com o seu cunho pessoal bem visível, e para sempre, teremos Sassetti a fazer-se ouvir, no seu piano, com a sua música de reinventar o mundo.
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Uma perda incalculável…
Continua a ser difícil pensar na música que teria para nos mostrar se por cá estivesse. Conheci-o pessoalmente nos bastidores do Teatro Micaelense e era incrivelmente afável. Era absolutamente visível o “entusiasmo infantil” de que falava o Sérgio Godinho.