Entre “Gera Sons”
Se as almas reencarnarem os corpos, parte da minha é a de um hippie resignado.
A verdade é que sempre tive vontade de pertencer a um ambiente onde pudesse viver com calças à boca-de-sino, despreocupado com o tamanho do cabelo e da barba e não fosse necessariamente Carnaval…
…Obviamente, percebo o ridículo da situação! Ainda assim, tenho de confessar o meu encanto por tudo o que envolve os anos sessenta. Para além da estética da roupa que marcou toda a geração hippie, é-me “nostálgica” a contracultura do movimento; a(s) causa(s), o pensamento, a irreverência, o desprendimento e, claro está, a música.
Por vezes, apetece-me ter o atrevimento de dizer que música (principalmente a música Rock) era a que se fazia por essa altura. Nesses momentos reflito. Combato o hippie. Opto por pensar que música é música e que há para todos os gostos…Custa-me, na verdade… Existe em mim um lado provocador que preferia ter a desfaçatez e, simultaneamente, a convicção de poder afirmar que “ainda está para vir um Festival como o Woodstock”.
– Dou por mim entre “Gera Sons”. @s que se fazem e @s que ainda gostava que se fizessem. @s que nascem com morte anunciada e @s que teimam em não morrer. @s que são o resultado da criação e @s que são criad@s para terem resultado.
No entanto, vou conseguindo ultrapassar essa visão radical. Adapto-me. Reconheço. Muito boa música se vai fazendo nos dias que já são distantes aos dos anos sessenta. Fico feliz, portanto.
Feliz foi também como me senti quando visitei o Boom Festival, no passado Verão. Numa odisseia que prometia desafiar as regras da sensatez (já agora, obrigado Rui Veloso) tive oportunidade de conversar comigo mesmo. Escusado será dizer que o meu amigo hippie sentiu-se em casa, apesar da batida. O resto de mim parecia admirar uma espécie de “Freak Show” envolto numa bolha inenarrável. Nessa bolha – mágica – pareciam caber todos os sonhos. Num tempo sem tempos e num espaço sem espaços, as pessoas gozavam duma harmonia sem igual. Foi bom poder apreciar a liberdade de outros e rir-me da libertinagem de alguns. Talvez o espírito do Woodstock 69’ não se tenha dissipado no tempo…
… Afinal, a música ainda (co)move as gentes. Tal como o gesto a música continua a “valer mais que mil palavras”. Insiste em dizer o indizível, sem nunca “revelar o seu último segredo”. É o único estranho a quem confidenciamos tudo.
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