Ermo, o que é solitário, que não tem companhia. Um lugar inóspito, deserto, calmo, desabitado. “Lo-fi Moda”, o segundo álbum do duo bracarense, é tudo isto – singular, sem paralelo no panorama musical português. Único, corajoso, inusitadamente mordaz – um murro no estômago camuflado com sorrisos superficiais.

Com uma leve aura de pop electrónico e uma voz aparentemente esforçada, em muitos momentos forçada até, – que, sejamos honestos, tardou a convencer-nos – o segundo álbum dos Ermo pareceu-nos, numa audição descuidada, mais um exagero de sucesso que pairava em todos os tops de álbuns nacionais de 2017.

Não podíamos ter atirado mais ao lado! A verdade é que com uma audição mais cuidada “Lo-Fi Moda” revela-se um álbum repleto de surpresas, onde a música de densas camadas contrasta com uma voz de leve rugosidade, onde a lírica ganha toda uma nova dimensão com o português como idioma.

No limbo entre o analógico e o digital, a palavra, aparentemente leve, atira flechas de lume à contemporânea vida leviana. Ermo deixa o álbum de estreia bem lá atrás e ganha uma nova dimensão – aqui há música de qualidade excepcional, de palavra afiada e, ainda assim, com a capacidade de entreter qualquer comum dançante.

Ao vivo, deixa-nos apreensivos a aparente abordagem colada aos computadores e módulos samplados, ainda assim balançada pela utilização da voz ao vivo. Um set produzido em directo tem a sua força, mas nada como um live act de instrumentos em punho – já estamos a imaginar uma grande bateria, um super sintetizador e vozes ao alto – resta-nos esperar para ver no grande Tremor #5, onde Ermo promete ser caso sério!

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