Folk e histórias sobre a morte para ouvir à lareira


Ao soar do terceiro acorde de piano,  a voz soturna e grave de João Rui atrai a atenção como o acender de uma vela numa sala às escuras. Há de ser assim todo o disco: uma sala escura e desconhecida cujo mistério é revelado aos poucos pela luz fraca e insegura deste lume.
Duvido que a data de lançamento do mais recente disco dos A Jigsaw tenha sido decidida com esta preocupação, mas acho que a chegada do Inverno proporciona o ambiente ideal para receber esta coleção de histórias, que pede uma lareira acesa, uma manta e um sofá, e a chuva a bater na janela para completar o cenário.
“No true Magic” é mais um passo seguro da banda de Coimbra a caminho de um reconhecimento mais alargado no panorama nacional.
Confesso que A Jigsaw era um nome desconhecido para mim, e que fiquei surpreendido quando fiz uma pesquisa sobre o seu percurso e percebi que este é já o seu quarto álbum. Mais surpreendido ainda fiquei quando me apercebi da enorme qualidade do trabalho que têm desenvolvido desde 2007.
A comprovar a teoria de que “santos da casa não fazem milagres” está o artigo da reputada revista francesa “Les Inrockuptibles”, que já em 2012 apontava A Jigsaw como uma banda a ter “debaixo de olho”.
Com uma sonoridade fortemente influenciada pela música folk, em “No True Magic”, os A Jigsaw andam por caminhos sombrios e exploram, liricamente, a morte e as incertezas a ela associadas.
Para tentar explicar o que podem encontrar neste disco – embora não se aplique ao disco de forma geral, mas que pode aguçar a curiosidade – deixo a imagem que me ficou do início do terceiro tema: o encontro da sonoridade das guitarras de Dead Combo com a peculiar voz de Leonard Cohen.
Fotografia de Paula Lourenço, Miguel Duarte e Sofia Silva

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