Gabriel o Pensador volta ao Monte Verde para fazer história
No meio da multidão emergia um gigante de hoodie vermelha. Gigante na rima, no rap, na mensagem e na canção. Gigante no amor, na emoção e na partilha. Cai o capuz – “Vou começar onde me sinto bem, aqui bem no meio de vocês”. Calafrio garantido, estava dado o mote para aquela que viria ser a melhor actuação de sempre no Monte Verde Festival.
Recinto completamente lotado na maior noite da quinta edição de Monte Verde Festival. Cedo se percebeu que aquela não seria apenas mais uma actuação, que aquele não seria apenas mais um artista no meio de tantos outros. A felicidade que muito poucos conseguem transmitir reinava no palco Monte Verde. O tempo viria a mostrar-se curto, todas as barreiras seriam quebradas e Gabriel o Pensador iria entregar duas horas e meia de pura diversão.
Racismo, preconceito e descriminação, violência, injustiça ou simplesmente amizade. O concerto de Gabriel o Pensador teve tudo – letras poderosíssimas e instrumentais magníficos, improvisações fantásticas e até um rapper nascido já no século XXI. Acompanhado por uma banda de fazer inveja a qualquer artista, o músico carioca trouxe todos os seus êxitos a S. Miguel. Não faltou o “Cachimbo da Paz” e a sua maresia, a porrada de “Até quando”, ou os pseudo-irreverentes machões de “Retrato de um Playboy”, mas sempre em novos contextos e com fantásticos mashups com músicas de grandes nomes como Bob Marley ou ACDC.
Mas Gabriel é muito mais que música, muito mais que a sua fantástica mensagem de intervenção, de quebra de tabus e de união dos povos. Numa espécie de conexão mágica com o público, o Pensador torna-se mais um amigo em cima do palco. Há partilha de experiências, há sentimento verdadeiro e um homem que mostra o que é sem o mínimo resquício de vaidade. O ponto alto? Foi mais ou menos assim:
(…)
Descendo a ladeira, passando a Terceira,
Vi o Corvo e as Flores lá no alto do Pico,
Vi o Faial e a Graciosa, vi até Santa Maria
E na Fajã de Santo Cristo foi onde me senti tão rico.
São Jorge, a lua toma conta do posto,
A lua trouxe as ondas na Maré de Agosto
E de lá do Monte Verde eu pude ver o swell,
Dropei na Santa Bárbara e nas feiticeiras.
E foi num sítio formoso que eu encontrei uma fogueira,
Eu fui parar num churrasco com uma galera maneira
Só p’ra ficar de bobeira, sem vaidade nenhuma,
Não conhecia ninguém, mas era parte da turma.
E na Lagoa de Furnas eu facturei um milhão,
Era o milho cozido na água do vulcão!
Não quero caviar, não quero foie gras,
Quero a sardinha, a petinga e as lapas, manda p’ra cá!
Quero poder andar sem pressa e sem medo na rua,
Parar no meio da estrada só para ver a lua.
Virar criança e bater asa e me sentir voando,
Virar uma águia ouvindo os beats do DJ Leandro.
Como se fosse como a gente ainda nem gravava,
Chamar o Tiago Mocotó na rima improvisada.
Aproveitando, eu pego dele essa rima emprestada:
Quem sabe o preço de tudo, não sabe o valor de nada!
As palavras do poema de Gabriel o Pensador, escrito na sua ultima viagem aos Açores, soltaram arrepios da plateia ao palco. O Pensador é já um de nós, não há volta a dar. Se dúvidas houvessem, já não hão – Gabriel pode ser repetente, mas será sempre o irmão do outro lado do oceano, sempre bem vindo para dar o maior show.
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Linda Martini e Throes + The Shine completam noite de sonho no Monte Verde Festival
Depois do fantástico concerto de Gabriel o Pensador o Monte Verde Festival não poderia ficar melhor entregue. Entravam em palco dois enérgicos vocalistas em fatos espampanantes, na companhia de uma viciante batida a um ritmo alucinante – Throes + The Shine não fizeram por menos e meteram toda a gente a saltar e dançar ao ritmo do seu rockuduro.
No início da noite houve também Linda Martini e o seu poderoso rock cantado em português. Em luz baixa e com os elementos da banda dispostos em linha, com a incrível bateria de Hélio Morais em primeiro plano, o destaque vai claramente para o instrumental da banda Lisboeta, irrepreensível e com uma energia fora do normal.
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Lado Lunar foi fixe?
Antes de mais, pedimos desculpa pela resposta (extremamente) tardia. Como sabe, o Meia de Rock, é um projeto sem fins lucrativos, e infelizmente, por razões profissionais, o colaborador que fez a reportagem desta noite de festival não conseguiu chegar a tempo do concerto dos Lado Lunar.