Golden Scissors é uma webzine escrita em inglês que é atualizada diariamente, dedicando-se quase única e exclusivamente à música eletrónica nas suas mais variadas latitudes. A nossa ideologia passa por apoiar músicos com produções numa vertente mais alternativa. Existe sempre um cuidado extremo na selecção da peça sobre a qual vamos escrever,  para nós é fundamental apoiar e divulgar apenas o que achamos relevante e produzido com qualidade. Basicamente publicamos música que por norma não toca na maioria das rádios que ouvimos no dia-a-dia. Naturalmente, e muito por força da qualidade musical, muitos destes projetos de uma forma ou outra acabam por se tornar mais mainstream.

Como é que tudo começou e evoluiu?

O projeto teve início em Fevereiro de 2011. Nessa altura o formato era muito diferente até porque era utilizado mais como um arquivo da música que ia descobrindo do que propriamente um meio de divulgação da mesma, além de que nem tinha noção da importância do design, estética, entre outras coisas. Para ser sincero, nunca pensei que o projeto se tornasse o que é hoje em dia. De início, era apenas uma folha de WordPress quase pessoal onde eu publicava um artigo por dia e também relatava um pouco sobre da minha experiencia como DJ. Para meu espanto, muitos desses artigos eram partilhados por esses mesmos artistas. Chega a ser comovente receber uma mensagem de agradecimento por um artigo escrito sobre um determinado artista que admiramos. O facto de os nossos leitores serem bastante fiéis, também acaba por ser muito compensatório a nível emocional. Entretanto o projecto começou a crescer mais depressa do que o esperado e com isso as responsabilidades para com os nossos leitores. Penso que esse crescimento deve-se ao facto de ter mantido sempre a identidade do projecto, com a selecção rigorosa dos conteúdos assim como ao estilo de escrita que eu sempre fiz questão de por em prática. Na minha ótica é importante fazer as pessoas sentirem que um blogger escreve por amor à camisola e não para ganhar reconhecimento ou esperar alguma coisa em troca. Ao fim de alguns meses a escrever sozinho, decidi convidar uma amiga de Lisboa (Cláudia Armada) para se juntar ao projeto. Infelizmente, ela já não está connosco por motivos profissionais, mas ainda chegamos a organizar uma festa para celebrar o primeiro aniversário do projeto, aqui mesmo nos Açores. Quando o projeto começou a ganhar alguma dimensão, decidi procurar ajuda de pessoas que entretanto fui conhecendo: o nosso logotipo foi desenhado por um designer espanhol (Eduardo Del Pozo). O site foi montado pelo Bruno Sousa que é natural de Ponta Delgada. No início de 2012 , após um ano de vida, convidei o Marco Silva, que também é Açoriano mas que atualmente vive em Amesterdão, é ele o responsável por toda a parte estética e de design do blog e juntamente comigo da gestão do projecto. Entretanto convidei duas amigas espanholas de longa data (Clara e María) que fazem as entrevistas aos nossos artistas preferidos. Temos contado também com a ajuda do Nuno Silva que vive em Manchester que escreve para o blog de forma regular. Mais recentemente, temos tido a colaboração do Alex Foley que é Canadiano e vive em Itália, e do Christian Risom que é Dinamarquês, na escrita de artigos. Neste momento estamos ainda a tentar dinamizar o nosso projecto e contamos com ajuda da Vera Oliveira, que também vive em Amesterdão, na parte de estratégia de comunicação e na dinamização comercial do blog.

Que estilos musicais promove?

A música eletrónica com o passar do tempo acaba por se tornar bastante volátil. Quando iniciei o projeto escrevia muito sobre Disco/House, Nu-Disco e Synthpop. Neste momento deambulamos muito pelo Indie Dance, Deep House, Chillwave, Shoegaze, Downtempo e Ambient.

O que é que te levou a criar este projecto?

Desde sempre fui um apaixonado por música. Com apenas 11 anos fui para Lisboa estudar no Colégio Militar, onde acabei por ser o solista mais novo de sempre até à altura no Orfeão. Ao mesmo tempo, sempre tive um fascínio enorme pelo mundo da música eletrónica. Com apenas 16 anos ia muitas vezes ao Bairro Alto só para ver como é que os DJ’s misturavam. Aos 18 anos voltei para os Açores e, mais tarde, comecei a passar música como DJ nos espaços mais alternativos de Ponta Delgada. Após ter finalizado os meus estudos fui para a Bélgica e quando voltei senti que tinha perdido espaço na noite de Ponta Delgada. Muito porque o Bar onde tocava com mais frequência tinha fechado. Nessa fase comecei a sentir uma necessidade enorme em partilhar com as pessoas a música que gostava. Também o facto de ler blogs de música desde muito novo, fez com que eu sentisse uma necessidade natural de escrever e partilhar o meu conhecimento na área. Nessa altura tive a sensação que a maioria dos blogs escrevia sempre sobre os mesmos artistas. Fazia-me impressão o facto de haver tanta música DIY que merecia destaque. Essencialmente, posso afirmar que foi pela necessidade de partilhar música com quem quisesse ouvir.

Até onde é que pode chegar o Golden Scissors? Qual é o objectivo?

Isso vai depender muito de apoios que o projeto poderá eventualmente vir a ter, ou não. Acredito que o Golden Scissors tem muito potencial e poderá dentro de algum tempo tornar-se numa referência dentro da linha musical em que estamos inseridos. O facto de escrevermos em Inglês torna o projeto mais abrangente na medida que é a língua que tem o potencial de chegar a mais gente. Penso que poderá ser também um veículo de promoção da nossa Região tendo em conta que temos alguns milhares de visitas diárias. O facto de estarmos no meio de Atlântico cria muita curiosidade aos nossos leitores. Pessoalmente faço variadíssimas referências às nossas ilhas. Isso também faz com que muitas pessoas tenham curiosidade em vir cá. É um orgulho muito grande ter este projeto em mãos e ver como as coisas tem crescido sem qualquer tipo de apoio. Nós temos muitos sonhos para o Golden Scissors. Não vou negar que muitas vezes sinto-me frustrado pelo facto de sermos mais conhecidos na Austrália, Estados Unidos ou França, do que propriamente nos Açores. Mas também tenho consciência que o nosso público-alvo não vive cá. Era bom se assim fosse! Quem sabe o facto de termos inúmeros contactos com artistas de renome não nos poderá dar a oportunidade de organizar um festival aqui mesmo na Região. Se calhar este mesmo artigo no Açoriano Oriental irá abrir novas portas dentro da Região. Também existe o lado humano e emocional que faz com que não queiramos parar. A nossa ideologia será sempre apoiar música que nos faz mover e, essencialmente apoiar artistas mais pequenos que merecem mais exposição. Não há nada mais gratificante do que sentirmos que um determinado artista está no topo porque fomos nós quem o divulgou em primeiro lugar. Para já o nosso objetivo mais imediato passa por melhorar o nosso site. Depois, logo se verá! 

Golden Scissors é um projecto de carácter internacional com “base” nos Açores. Que feedback têm tido quer do estrangeiro, quer a nível nacional e regional? 

O feedback tem sido excelente! Tanto a nível internacional como nacional o feedback tem sido largamente positivo. É notório o crescimento gradual tanto no número de visitas diárias no site provenientes dos quatro cantos do mundo, como também no número de fans no facebook, twitter, youtube, soundcloud, etc. É verdadeiramente incrível a quantidade de pessoas e empresas discográficas que todos os dias enviam-nos música para nossa apreciação. Não querendo passar uma imagem pretensiosa, mas existem dias em que recebemos mais de 100 emails com nova música para analisar. Se tivermos em conta que escrevemos em média 5 artigos por dia, só podemos ficar contentes com o facto de estarmos constantemente a receber submissões. O nosso segredo passa mesmo pelo facto de sermos seletivos e partilhar apenas o que achamos relevante. Ao fim de algum tempo naturalmente que criamos uma relação de respeito com algumas empresas discográficas e também com alguns artistas. Temos tido a sorte em “lançar” alguns artistas que neste momento são bastante conhecidos a nível internacional. Por exemplo, fomos dos primeiros blogs a nível mundial a escrever sobre Flume, que teve o melhor álbum do ano de 2012 na Austrália. Também fomos responsáveis pelo lançamento internacional do Francês Dream Koala, que neste momento é considerado um dos artistas mais promissores na cena Francesa. Temos uma grande relação de amizade com os Flight Facilities, que são provavelmente a dupla mais conhecida a nível mundial dentro da cena Disco. Temos ainda uma relação muito próxima com a Future Classic, uma das maiores labels Australianas, assim como com a Vulture Music liderada pelo lendário Alan Braxe. A empresa discográfica Belga Eskimo Recordings tem sido, também, uma boa parceira. A nível nacional temos uma relação muito boa com a D.I.S.C.O. Texas que é liderada pelo Xinobi e Moullinex (ambos já tocaram nos Açores). Nós sentimos que a nossa palavra tem algum peso a nível internacional e sentimos que as pessoas respeitam e “ouvem” aquilo que temos para dizer. Muitas das vezes somos referenciados por blogs mais pequenos como referencia. O ano passado fomos convidados para fazer parte de uma elite de trendmakers no panorama internacional, juntamente com blogs de referência como o Pitchfork ou a Rolling Stone. Naturalmente que tendo a nossa base e origem nos Açores, só podemos estar orgulhosos do nosso trabalho e temos a esperança que as pessoas sintam carinho e orgulho por aquilo que fazemos.

A que nível está a produção de música electrónica nos Açores? Tem havido uma evolução positiva? Há oportunidades para os produtores?

Sinceramente desconheço que exista algum projeto Regional que esteja de acordo com os nossos parâmetros de publicação. Era bom que houvesse! Para se chegar a algum lado no mundo da música é preciso trabalhar arduamente durante muito tempo. É importante nunca desistir e pode chegar mesmo a ser frustrante. Muitas vezes os produtores têm pressa em lançar música e isso pode ser um grande erro. É fundamental ter a certeza que o que estamos a partilhar tem mesmo muita qualidade. Existe muita gente pelo mundo fora a produzir música com muita qualidade. Fazer a diferença é o segredo. Se um produtor lançar um primeiro single que não seja verdadeiramente bom, será muito difícil mais tarde que alguém queira ouvir o que ele tem para mostrar. O mundo da música eletrónica vive muito do momento, muito da imagem, do apoio de blogs e empresas discográficas. Seria um prazer enorme apoiar artistas locais, mas infelizmente ainda não tivemos essa oportunidade.

Que artistas nacionais e internacionais destacas: Melhores de 2013? E próximos lançamentos a que se deve estar mesmo atentos.

A nível nacional temos sempre os mesmos crónicos candidatos a melhores do ano: Moullinex (Luís Clara Gomes) e Xinobi (Bruno Cardoso) estão definitivamente num patamar acima de todos os outros. Depois existem excelentes produtores como Mirror People (Rui Maia) e também destacamos o Silenx (Joel Azevedo) que na nossa opinião são artistas de topo, mas penso que  preferem andar por estilos mais alternativos, o que se torna quase impossível ter uma notoriedade maior. Para além destes, temos o nosso grande RAC (André Allen Anjos), que vive em Portland e que é um dos mais badalados produtores nos Estados Unidos do momento. Quero ainda referir que existe um produtor Canadiano de nome artístico, Pomo, que muito recentemente revelou-me via twitter que o pai dele é Açoriano e que ele mesmo já cá esteve nos Açores várias vezes. Com certeza que para ele, 2014 será um ano de afirmação. Relativamente a 2013, o que não faltaram foram grandes nomes, tais como: Disclosure, Dream Koala, Flume, Panama, Touch Sensitive, Bonobo, Classixx, Toro Y Moi, Gold Panda, Darkside, só para nomear alguns. No que concerne a lançamentos para 2014, estamos todos ansiosos pelo álbum de RAC que contará com participações de Tegan and Sara e de Alex Ebert dos Edward Sharpe and the Magnetic Zeros e ainda de Body Language. Estamos também muito curiosos para o ouvir o novo EP do Alemão Roosevelt. Existem também rumores que os Americanos Glass Candy preparam um novo álbum para breve. Os lendários Klaxons já lançaram um novo single do próximo trabalho que sairá em Março. O lendário produtor Norueguês, Todd Terje irá debutar o seu LP este ano, isto ao fim de mais de 10 anos de carreira. O Britânico SBTRKT também fará as honras com um álbum novo, isto depois de ter estado 3 anos praticamente em silêncio. Os americanos Chromeo também tem estado em grande forma com dois singles já revelados do seu próximo álbum. Os lendários Thievery Corporation irão também lançar mais um álbum este ano. 2014 Será um grande ano com toda a certeza!

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