Haverá lugar para o humor na música?
Frank Zappa conseguia retratar a sociedade americana de forma satírica, mas sempre acompanhada de grande música. Aí é que está o segredo: se fores um grande músico os ouvintes levam as piadas a sério! Caso contrário “é uma brincadeira”.
O tipo de humor também contribui. Mas o humor é como as opiniões: cada qual com o seu. Há quem prefira o inteligente, o crítico, o ‘nonsense’ e, sabe Deus, que em Portugal há uma predileção pela brejeirice!
Sem fazer uma lista exaustiva, recordamos aqui uns quantos projetos nacionais, desde o “brejeiro valente”, como Ena Pá 2000 e Irmãos Catita, até ao humor mais inteligente de João Melo e os Fúria do Açúcar. Pelo meio temos pérolas imortalizadas pelo grande ‘entertainer’ Herman José, algumas das mais conhecidas escritas por Carlos Paião (”Bamos Lá Cambada” e “Canção do Beijinho”). Mas não vamos por este caminho, senão ainda teremos de incluir o “Rap dos Matarruanos” do Gato Fedorento.
Ainda há dias o Meia de Rock deu conta do novo álbum dos Irmãos Catita, que tal como Ena Pá 2000 (até porque os dois projetos vêm da mente “conturbada” de Manuel João Vieira), não são bandas ‘family friendly’. A sério, não ouvir na presença dos pais! É de ficar corado. Não há qualquer filtro.
Já Quim Barreiros, por exemplo, consegue dizer o que toda a gente sabe e interpreta, mas sem nunca ser direto. Não sendo totalmente pudico, também não é o campeão do indecoro. É um ‘soft brejeiro’.
Por outro lado, temos “O Maravilhoso Mundo do Acrílico” d’ A Fúria do Açúcar. Um álbum bem inteligente e bem produzido, em que os mais conhecidos “Eu gosto é do Verão” e “ Joana Bate-me à Porta”, estão bem longe da qualidade do resto do disco. João Melo é uma pessoa culta. Nota-se tanto nas suas letras como nas suas ‘performances’ como apresentador de TV ( lembram-se?).
Depois, nos anos 90, parece que toda a gente em Portugal tinha piada (ou achava que…): Mercuriocromos, Mau Maria, Porquinhos da Ilda, entre muitos outros. Uma ressalva contudo a Mau Maria, um projeto com características mais interventivas do que humorísticas.
O humor é muito discutível, mas parece haver uma espécie de consenso sobre a diferença entre uma banda humorista e uma banda com “piada”. São coisas bem diferentes: fazer humor e fazer piadas! E mais diferente ainda é a arte humorística através da música. “Does humor belongs in music?”. Sim, se for bem feito.
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O humor na música internacional
A nível internacional gostaria de recordar os brasileiros Mamonas Assassinas, que tiveram um ‘boom’ em meados dos anos 90, não só no Brasil, mas também em Portugal, onde, aliás, se preparavam para vir em digressão quando ocorreu o acidente de aviação que os vitimou. Saliento ainda, The Blood Hound Gang. A verdade é que se perde sempre alguma coisa na tradução, mas os autores de “Fire , Water, Burn” são de um humor excelente, mesmo que às vezes pareça a versão americana de Ena Pá 2000!
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Artigo muito interessante!
Só para “ajudar à festa” acrescento mais 2 exemplos. O talentoso actor mas igualmente talentoso músico Hugh Laurie tem uma composição sua carregada de humor, o seu tema Mistery que pode ser visto aqui – https://www.youtube.com/watch?v=HPC6kwhFLbo.
O 2º exemplo é o de Tim Minchin, combina o humor e a música de forma muito peculiar. Fica aqui um registo – https://www.youtube.com/watch?v=T6qA-4PWdsg.