Indignu – Odyssea
O quinteto barcelense indignu volta às edições após “Fetus In Fetus”, de 2010, com um álbum que de certo figurará nos melhores do ano em muitas playlists. “Odyssea” é um álbum instrumental e experimental que nos remete para épocas gloriosas deste cantinho à beira-mar plantado. Uma verdadeira viagem sonora a tempos idos onde as nossas raízes são retratadas de uma forma sublime.
Os títulos das canções contidas neste álbum contam-nos a história de uma aventura que se nos apresenta cheia de peripécias, emoção e descoberta essencialmente interior. É igualmente interessante notar que a duração das faixas aumenta à medida que nos aproximamos do final (excepto na última), assim como a intensidade da travessia em que acabámos de embarcar.
A jornada começa num “Prólogo” algo soturno e misterioso antecipando, desde logo, que algo muito especial está prestes a acontecer sem nunca nos desvendar bem o que será. Como que envolto numa bruma matinal, o ouvinte deixa-se levar, o espírito lusitano assim o demanda.
O primeiro capítulo, “Onde As Nuvens Se Cruzam”, conta com uma bela introdução. Suave, melancólica e harmoniosa, a música faz jus ao título. É fácil imaginar-se uma paisagem bucólica ou um qualquer lugar idealizado por um qualquer navegante que não sabe o destino da sua viagem. Especial destaque aqui para o violino de Graça Carvalho, o qual dá um toque instrumental ao tema no meio de um ensaio que se prolonga ao longo de todo o álbum. Seguimos então com “Caravela Na Ponta Dos Dedos” onde fica bem evidente a portugalidade que a banda quis expressar com este tema. Para tal, muito contribuem a participação das cordas e a guitarra portuguesa: é possível sentir-se o espírito aventureiro típico de um povo que desde sempre aspirou ir sempre mais além. É a essência do ser português expressa de uma forma arrebatadora e inexplicável, só acessível a partir do mundo dos sentidos.
A meio da jornada de repente “Chovem Pedras De Fogo Do Céu”. Como em muitos percursos, existem percalços ou situações inesperadas retratadas num tema com passagens intensas a contrastar com outras mais calmas que agarram o ouvinte do primeiro ao último minuto levando-o a ficar na expectativa do que virá a seguir. Atente-se para a parte final da música onde temos a oportunidade de ouvir um verdadeiro diálogo entre o piano e o violino que acaba da melhor forma a faixa.
Já diz o ditado que “depois da tempestade vem a bonança”. Muitos aventureiros já devem ter proferido estas palavras ao longo das suas viagens e, certamente, muitos deles refugiam-se em crenças/imagens que, esperam eles, os levem ao destino traçado. “Santa Helena” funciona como o farol desta odisseia que, apesar das peripécias vividas, faz-nos acreditar que o fim será atingido, tudo isto de uma forma harmoniosa e positiva.
Afinal de contas, “No Fim Ninguém Quer Trevas”. Começando de uma forma algo sorumbática, o tema evolui e chegámos, finalmente, a bom porto e podemos então descansar. Contudo, o sorriso do objetivo alcançado não nos tira a vontade de fazer novamente o percurso ao relembrarmos a aquilo que acabámos de viver nesta imensa deriva sonora. “Epílogo” é, provavelmente, o tema que foge mais ao restante do disco, não deixando, contudo, de ser agradável de escutar. Uma vez mais, o violino e a melodia do piano complementam-se como numa dança entre dois cúmplices que tanto nos deram ao longo desta jornada.
Os indignu conseguiram com “Odyssea” alcançar um patamar alcançado apenas por aquelas bandas que possuem algo especial. Apesar de ser apenas o segundo longa-duração do quinteto, é fácil apercebermo-nos que a banda começa a atingir um ponto crucial nas suas carreiras. Uma maturidade expressa através de uma boa dose de experimentalismo, muita emoção e, acima de tudo, muito talento.
Absolutamente imperdível.
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