Maré de Agosto 2017: o melhor ficou mesmo para o fim


Mesmo no final dos Retimbrar – a primeira actuação da noite – um tímido pingo corria a plateia da Maré de Agosto. Afinal, a sabedoria popular mariense sempre nos disse – “Maré sem chuva não é Maré!”. Quando todos esperavam ser algo sem grande importância, uma tromba de água varreu tudo, levantou quem estava sentado na colina e remeteu todos os festivaleiros para a zona de bar do festival. Avizinhava-se uma noite chuvosa e não nos ocorria outra ideia– “esta chuva vai estragar o melhor dia da Maré”. Os Deuses estavam do nosso lado e instantes antes de Les Frères Smith entrarem em palco, a chuva fugiria para não mais ver. Estava tudo pronto para aquela que viria mesmo a ser a melhor noite de Maré de Agosto.

Com uma multidão em cima de palco, Les Frères Smith passavam uma energia contagiante, num espectáculo com três saxofones, um trompete, bateria percussão, piano, guitarra, baixo e duas vozes. Quem são os irmãos Smith? Um exuberante vocalista, de áfrica na voz, e um saxofonista enérgico, comunicativo e extraordinariamente divertido. O resultado? Um espectáculo vindo de Paris, mas com sons de áfrica, muito funk, muito pé solto e muito divertimento à mistura – um espectáculo mesmo ao jeito da Maré!

Seguia-se aquele género que encaixa sempre bem no alinhamento da Maré. Em sua representação já tiveram Gentleman. Omar Perry ou Matisyahu, mas este ano coube a Tiken Jah Fakoly representar o reggae. Vindo da Jamaica? Não, nem pensar. Vindo de África, Costa do Marfim para ser mais específico, Tiken Jah Fakoly tem uma missão – fazer regressar o reggae a África. A boa onda era geral, todo o mundo dançava e até cantava em comunhão com a banda “África Needs to be Free”. Sim, a música de Fakoly é pura boa disposição mas nunca deixa de ter ma componente de intervenção muito forte porque no final “A música reggae é a voz das pessoas pobres no mundo”.

Escolher a melhor actuação da Maré é sempre difícil. Bom, este ano não foi. Pelo menos para qualquer amante de Moullinex – onde, orgulhosamente, nos inserimos. Esqueçam o deck e os samples, aqui toca-se a música electrónica com instrumentos a sério. De baixo em punho e esqueleto livre, Moullinex transformou aquela que é sem duvida uma das melhores electrónicas produzidas no mundo em algo tangível, verdadeiro, sem truques e com muita dança à mistura. Sim, porque a disco não deixa de ser disco e a pista é para dançar – que o diga o grande mestre Moullinex!

Já lá vai. A Maré de Agosto que tanto ansiámos passou por nós como um autêntico relâmpago. Já acabaram os concertos de pura descoberta, as bandas de divertimento verdadeiro, os banhos de mar naquela tão apetecível água cristalina, a camaradagem e amizade entre campistas. É oficial – o “spirrit” da Maré continua bem vivo, mesmo em ano de decisões difíceis e algumas pequenas experiências. Desde as quatro actuações de fantásticas bandas por dia ao palco totalmente renovado, maior e com um backstage capaz de diminuir a espera entre actuações, tudo contribuiu para que a edição de 2017 da Maré de Agosto tenha sido uma das nossas preferidas – sem qualquer sombra de dúvida.

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Foto: © Fotopepe

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