Medeiros/Lucas deixam o mar para trás e pisam a “Terra do Corpo”


Prendem-se as amarras e pisa-se terra firme. Para trás fica a maresia, o sal, a pele pelo sol gasta. A insularidade não, esta nunca fica para trás, esquecida. Esta acompanha-os sempre – a qualquer ilhéu -, por mais distantes que estejam do mar, da costa e da vida marcada pela “embriaguez do isolamento” que inevitavelmente invade a alma de qualquer destes Homens.

Para trás fica o “Mar Aberto” e a música de marujo. Agora há Medeiros/Lucas em terra firme, a observar o mundo e o Homem. Depois da longínqua viagem até aos confins da açorianidade, “Terra do Corpo” é o esperado regresso da dupla, onde a lírica assume uma nova forma e um incrível protagonismo. João Pedro Porto tem a palavra, Carlos Medeiros dá-lhe vida.

A ode ao vazio. Ao vazio que se vive numa sociedade onde é mais fácil saber a côr da sola do chinelo do filho de um jogador de futebol do que saber o nome do vizinho. Ao vazio interior, de ideias, de soluções, de verdadeira falta de identidade. A intervenção, a música de Abril deste disco é isso mesmo – uma grande chamada de atenção aos estranhos tempos em que vivemos, imersos numa crise económica e financeira, imersos numa crise de pessoas e de valores.

A inconfundível sonoridade que une a contemporaneidade de Pedro Lucas à tradição de Carlos Medeiros continua viva, sempre com um novo caminho por onde ir, sem nunca esquecer o que ali a trouxe. Juntam-se ainda nomes como Carlos Barretto e o seu formidável contrabaixo, Tó Trips dos Dead Combo e a profunda voz de Selma Uamusse e tem-se um dos grandes álbuns de um 2016 que ainda nem a meio vai. Mas talvez seja mesmo o jogo da lírica de João Pedro Porto o ónus da clausura inevitável de “Terra do Corpo”, por entre simples e enigmáticas letras que prendem tudo, que prendem todos.

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Foto: Nuno Carvalho

1 comment

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  1. 1
    Paula Amaral

    Quando se juntam “Gigantes” o resultado também é gigante: Grandes letras, Grandes músicas… venham mais! E grande artigo!

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