Medeiros/Lucas e um mar de emoções no Teatro Micaelense


A mais bela particularidade da música é poder apoderarmo-nos dela. Tomar uma palavra como se da nossa boca saísse, transportar melodias por quilómetros de vida, ouvir a nossa história por alguém que nunca nos pôs a vista em cima. Foi assim com aquele “Navio” que, fustigado pelo mar e pelo isolamento, já encontrou o seu último porto, trazido pelas mãos de Medeiros/Lucas, pleno de sentimento no palco do Teatro Micaelense.

A noite era de grande expectativa e, mesmo com uma plateia despida de mais para o merecido, Pedro Lucas e Carlos Medeiros fizeram questão de dar tudo o que têm. Com um repertório rico, com o mais recente álbum “Sol de Março” em destaque, mas, ainda assim, repleto de fantásticas versões dos temas dos álbuns antecessores, a dupla não deixou ninguém indiferente. De “Sol de Março” chegou-nos uma Helena Poena cheia de boa disposição, um frenético “Podre Poder” e um irrequieto “Galgar”. Mas foi mesmo do antigamente o que mais nos tocou – “Fome de Vento”, “Sede”, “Marinheiro” e, claro, o “Navio” dificilmente cairão em esquecimento.

Engane-se quem pense que só a música que esteve em evincia no Teatro Micaelense. Aliás, o dia era mesmo da palavra. Com um espetáculo inserido no Arquipélago de Escritores, festival literário que reuniu mais devinte escritores em Ponta Delgada, o foco estava também em João Pedro Porto – o mestre de caneta em riste nos álbuns “Terra do Corpo” e “Sol de Março”. A lírica é mesmo inseparável da música em Medeiros/Lucas e, durante todo o concerto, Pedro Lucas fez questão de o dizer – “palmas para o grande João Pedro Porto, que anda por aí convosco na plateia”. Mais do que merecidas, diríamos nós, três filas atrás daquele mestre da palavra.

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Foto: Joana Komorebi

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