Memória de Peixe – Big Bada Boom


Estou finalmente sentado no centro da sala. Acabo de ouvir “Himiko Cloud” e mantenho-me, se não se importam, boquiaberto. Não é para menos. O segundo álbum de originais dos Memória de Peixe eleva muito, mas mesmo muito, o padrão do que por estas terras se produz. Como se tal não fosse suficiente, é também capaz de sacar o Fio de Beque do marasmo musical em que se encontrava mergulhado. Enfim, duas tarefas hercúleas!

Recuo a 2012, às Caldas da Rainha, cidade de pedigree artístico, para relembrar o advento deste duo cujo nome denuncia uma parte da sua base musical. O primeiro registo, o homónimo Memória de Peixe, apresentava-se dono assumido de uma complexidade algo ingénua, fruto de um amor extremamente abrangente e descomprometido por música, da boa está claro. Estes elogios não são em vão e são culpa de uma ideia original do mastermind Miguel Nicolau, cuja composição e montagem de curtos loops de guitarra eram sobrepostos à batida do então baterista Nuno Oliveira. Uma pedrada no charco e a onda estava lançada.

Até ao presente, a sucessão de dias contou-se por via de grandes concertos, por cá, por lá, novos amigos e admiradores, novas composições, novos sons e visuais fantásticos – testemunhem a coreografia de “7/4” e os unicórnios mentais de “Arcadia Garden. Os Memória de Peixe passaram quatro anos mergulhados no turbilhão clássico de quem se encontra em constante evolução sabendo, no entanto, exactamente o que quer, e como em tudo, este processo conta com avanços, recuos e revoluções. É desta forma que à equação se junta Marco Franco, um dos extraordinários Tim Tim Por Tim Tum. Desde logo a mudança faz-se sentir nos arranjos ao vivo e que apontam as coordenadas do que está por vir. A escrita torna-se mais leve, enganadoramente menos pensada mas claramente mais madura e desafiante, dando lugar a espaços enormes, sem nunca descurar o entrosamento e coesão musical. A imagética à qual recorrem não é menos impressionante contando, para efeitos de elevação da fasquia, com a ajuda dos artistas plásticos Andy Singleton e Carlos Gaspar.

“Himiko Cloud” é um blast sónico, um oceano de bom gosto, uma reavaliação das infinitas possibilidades e potenciais encerrados na irmandade simples, eterna e sagrada da guitarra e bateria. Anseiam por Jazz, Rock Nintendo, vielas de compassos ímpares, paisagens utópicas, caricaturas de tons pastel, princesas de porcelana e por fim não ter de aturar os versos fingidamente sentidos sobre o final de relação de mais um poeta que escreve tudo mas não diz nada? Aproveitem, este é para vocês. Ouçam-no bem alto que ele merece!

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Foto: Rui Soares

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