“Negro Drama (…) Pesadelo é um elogio para quem vive na guerra / A paz nunca existiu. / No clima quente a minha gente soa frio. / Tinha um pretinho, seu caderno era um fuzil. / Negro drama”. Arrepio solene em pleno Monte Verde Festival. O momento da noite estava ali, de caras. Seu Jorge recitava, na sua grave voz, “Negro Drama”. Ali, sem mais nada, despido de qualquer artefacto musical. Seu Jorge afinal não era só “Música Para Churrasco”.

Pode até não ser só churrasco, mas é churrasco o prato forte de uma actuação para jamais esquecer. Quem consegue resistir àquele cavaquinho atrevido a anunciar a “Amiga Da Minha Mulher”? Aos sopros viciantes da “Mina do Condomínio”? Ou a uma “Burguesinha” de oito músicos – sim, oito! – em linha a dançar em perfeita sintonia? Absolutamente ninguém!

A verdade é que em seis anos de Monte Verde Festival não tínhamos vislumbrado algo parecido. Um autêntico festival de alegria, embebido num instrumental absolutamente soberbo com onze músicos em palco, incluindo sopros, teclas, percussão, cordas e até harmónica, num equilíbrio perfeito entre qualidade musical e divertimento puro. Aqui o público “pode cantar – tá liberado”- mas cantou pouco, muito pouco. Não fosse a muito conhecida “É isso aí”, cantada em uníssono na plateia, e diríamos que muito povo estava num espectáculo diferente do nosso.

Enquadrando o magnífico espectáculo de Seu Jorge estiveram NEEV e Dub FX. Imediatamente antes do músico carioca subir a palco, Neev, um jovem rapaz de voz incrível e falsete fácil, surpreendeu com a sua música directa, sentida e incrivelmente bem executada. Da voz ao instrumental, tudo parecia fluir como se de um artista com anos e anos de experiência se tratasse, proporcionando excelentes momentos para um público que se deixou envolver. A fechar Seu Jorge, Dub Fx trouxe um espectáculo muito interessante, numa fusão de estilos entre o Reggae, o Hip Hop, o Drum and Bass e até o Jazz, com uma actuação repleta de convidados e de uma energia contagiante. Já os Passos Pesados tiveram a ingrata tarefa de abrir a noite, frente a um público curto, muito influenciado pelas dificuldades verificadas na entrada do festival. Muitos ouviram a mítica “Fuel” a partir da bilheteira – nós incluídos – após tempos de espera infindáveis, num concerto que se fazia parecer digno de plateia vasta.

Hoje continua a festa e a noite começa forte no Palco Azores Airlines com os sempre incríveis Ronda da Madrugada às 21:45, seguindo-se Valete, Ella Eyre, Dillaz, Sigala e The Prototypes, terminando às 05:15 com Ishan. No Palco Delta o grande destaque vai para LOT – absolutamente a não perder!

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Dia negro para a organização do Monte Verde Festival 

Paraíso na plateia, inferno para os milhares que ficaram retidos num acesso incrivelmente mal dimensionado. A bilheteira, deslocada para a entrada do festival, minúscula para os milhares de pessoas que tentavam trocar pulseiras, comprar bilhetes ou levantar convites, sem qualquer segurança a organizar uma interminável fila, transformou-se num autentico festival de empurrões, onde até o mais paciente festivaleiro perderia a paciência. A vontade de entrar no recinto seria já mínima, mas o ponto mais baixo – e mais grave – da noite foi o facto de milhares de pessoas serem mesmo impedidas de entrar no recinto enquanto decorria o espectáculo de Seu Jorge devido a um alegado “overbooking” do festival.

A organização do Monte Verde Festival já reagiu em comunicado ao sucedido, invocando razões de segurança para a impossibilidade de entrada de mais pessoas no recinto. A causa do incidente estará relacionada com uma afluência extraordinária de pessoas no horário do espectáculo de Seu Jorge, a que a organização não terá conseguido reagir em tempo oportuno. A organização compromete-se ainda a trabalhar para corrigir o sucedido nos próximos dias do festival, com reforço de bilheteiras e ainda com a possibilidade de reembolso para quem não conseguiu entrar no festival. O Monte Verde Festival segue assim para mais dois dias de festa com nomes de luxo, agora com tudo para prosseguir sem grandes percalços.

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Foto: © Monte Verde Festival