NOS Alive ’15 – Ser para todos não é para todos


O que ganha um festival em ser ecléctico? Pessoas, de todas as idades e adeptas dos mais diferentes estilos e vertentes musicais – o grande público. E o que perde? Consistência. Mais que isso, pode até perder identidade. O NOS Alive é o espelho disso mesmo. Um enorme festival, com artistas de topo mundial, com muito público – 155 mil passaram pelo Passeio Marítimo de Algés só este ano – e com um ambiente de festa invejável. Mas por outro lado torna-se muito difícil ir a este festival e ficar na mesma linha musical durante as muitas horas de música diárias distribuídas pelos seus três principais palcos – só mesmo o palco NOS Clubbing consegue manter uma qualidade e consistência simultâneas, por caminhos mais chegados à música de dança. A falta de consistência em género musical é bastante evidente no palco principal por exemplo, com casos de bandas completamente diferentes actuarem consecutivamente – como é o caso de Mumford & Sons e The Prodigy na edição deste ano – o que pode afectar em muito o espírito dos festivaleiros.

E se invertêssemos a pergunta? O que ganhamos nós, o público, com um festival ecléctico como o NOS Alive? Muito! Ganhamos a possibilidade de ver aquela banda que sempre quisemos ver, de conhecer novas bandas emergentes, de ver aqueles grandes nomes que até nem somos grandes aficionados mas que são um marco na música. Ganhamos a possibilidade de passar três excelentes dias com todos os amigos, apesar de até terem gostos bastante diferentes. Afinal, e só na edição deste ano, tivemos a possibilidade de ver Muse, The Prodigy, Ben Harper & The Inocent Criminals, Disclosure e Chet Faker num espaço de 72 horas e apenas falando no palco principal. Mas nem só de palco principal se faz o Alive. Aliás, para nós aqui do Meia de Rock, na edição de 2015 os grandes destaques emergiram mesmo dos palcos secundários.

Moullinex | Palco NOS Clubbing

Elsewhere está cá fora há dois meses e já estávamos desesperados para ver a sua reprodução ao vivo. Não podíamos ter escolhido melhor dia. Luís Clara Gomes apareceu no palco NOS Clubbing com sete – sim sete – músicos! Ver este fantástico álbum reproduzido por meio de cordas, precursão e alguns sons sintetizados é algo memorável. Muito mais que uma simples reprodução, é a recriação de todo um álbum. Mas também houve tempo para algo inédito no Alive, com a apresentação ao vivo de uma das mais famosas remisturas de Moullinex. Da Chick apareceu e fez o lugar de Robyn em “Do It Again”, o remix da faixa de Röyksopp e Robyn, numa interpretação de chorar por mais. Seja em estúdio, em formato live ou DJ Set, o homem-Discotexas afirma-se cada vez mais como um dos grandes nomes portugueses na cena electro/disco e não há volta a dar: está aonde deve estar.

Tiga | Palco NOS Clubbing

Para qualquer amante de música electrónica, Tiga é um nome incontornável. Seja a remisturar ou a produzir a sua própria música, o produtor canadiano conta sempre com uma energia contagiante. Ao vivo não poderia ser diferente e num espectáculo acompanhado por outro homem nos sintetizadores, Tiga tomou conta do deck, pegou no microfone e levou qualquer alma presente do espaço Clubbing a dançar até cair. Não faltaram os grandes êxitos da sua carreira, como a hipnotizante “Shoes” ou a poderosa “You gonna want me”. Os anos passam, mas parece que não passam por Tiga. O homem continua a ser um dos mais importantes nomes na cena electrónica e nós gostamos muito disso!

Decked Out 15 years | Palco NOS Clubbing
A agência Decked Out fez 15 anos e não havia melhor maneira para celebrar do que reservar a pista do Clubbing e dar ao público 11 horas da melhor música de dança que por aí se faz. Não é por acaso que ficámos colados no palco NOS Clubbing durante 5 horas seguidas, acabando por perder algumas das actuações que estavam no nosso plano de acção. Os primeiros responsáveis da nossa clausura foram Alex Metric e Aeroplane, que partilharam o deck e fecharam a tarde numa fantástica linha de disco e com uma suave transição para o Dj Set de Riton. O Londrino entrou por caminhos mais profundos que foram dar ao Deep Electro de Djedjotronic, num alinhamento muito bem pensado, consistente, em crescendo e sem paragens. Mas o melhor da noite estava guardado para Etienne de Crécy com a apresentação de SuperDiscount 3. Electrónica bem marcada e extremamente viciante, em formato live e com um espectáculo visual incrível. Enormes letras retroiluminadas variavam de côr, gritavam SUPER DISCOUNT e davam vida a um palco onde não havia protagonismo para os artistas – aqui é para dançar!

Django Django | Palco Heineken

Quando todos esperavam que Muse “ganhasse” o primeiro dia do Alive, os Django Django estariam a esfregar as mãos e a pensar “Cá vos espero”. Bom, provavelmente não estavam a pensar nada disso, mas a verdade é que foram fantásticos e provavelmente os mais impressionantes do primeiro dia do festival. Vieram trazer ao público português “Born Under Saturn”, que possivelmente é mesmo o local de nascimento do tão distinto grupo londrino, mas também houve muito do álbum de estreia homónimo da banda. E ainda bem que assim foi… Quem podia passar um concerto de Django Django sem ouvir “Waveforms” ou “Default”? Mas ao mesmo tempo o novo álbum é um fantástico registo, estando já na linha da frente para um dos melhores do ano. Conclusão: ainda antes do concerto acabar, já os Django Django nos deixavam com vontade de os ver de novo!

Metronomy | Palco Heineken

Foram precisos três anos para voltarmos a ver os Metronomy no NOS Alive. A espera valeu bem a pena!  Sem álbum editado este ano, a banda encabeçada por Joseph Mount trouxe ao Alive uma espécie de best of da sua carreira, claramente baseado nos álbuns “Love Letters”, de 2013, e “The English Riviera”, de 2011. Não faltaram aquelas músicas que todos estavam à espera de ver e ouvir como “The Bay”, que fechou o concerto, ou “Reservoir”, uma das mais singulares músicas da banda. Sempre com todo o seu funk, os britânicos apresentaram o talvez mais divertido concerto do festival. Aquelas linhas de baixo super funkys, aqueles synths com uma sonoridade retro e o visual catita da banda nem tão cedo nos vão sair da memória.

Róisín Murphy | Palco Heineken

A irreverente Róisín Murphy era uma das artistas que mais curiosidade nos suscitava. Com o já distante mas poderosíssimo segundo álbum a solo editado em 2007, Overpowered, a voz por de trás dos Moloko surpreendeu tudo e todos com a edição de Hairless Toys este ano – e que álbum! A interpretação ao vivo não ficou a dever nada ao registo de estúdio e Róisín estremeceu o palco Heineken com a sua extravagância, com a sua roupa em constante mutação sem necessidade de backstage, com as suas enigmáticas máscaras, com o seu fantástico electropop. Só tivemos pena de não ver nenhum dos antigos álbuns em palco… Parece que Róisín não é mulher de viver no passado – também não precisa. Se tivéssemos que escolher o melhor concerto do NOS Alive, Róisín Murphy era um nome inevitavelmente a considerar.

 

The Prodigy | Palco NOS

A expectativa da grande maioria do público estaria altíssima, mas aqui do nosso lado não estava ao mesmo nível. É certo que os The Prodigy são um grande colectivo, com uma fusão musical que marcou a década de 90, mas estes senhores já estão no activo há 25 anos e acompanhar a enérgica música que produzem não seria tarefa fácil. Não seria, mas foi! Uma energia contagiante vinha do palco e varria uma plateia com perto de 50 mil pessoas. Um concerto muito consistente, quer nas canções menos conhecidas, muito bem intercaladas com clássicos como “Firestarter”, “Voodoo People” ou “Breathe”, quer nas passagens entre músicas. A emoldurar toda aquela enérgica música, um espectáculo de luzes “impróprio para epilépticos”… Simplesmente memorável!

Disclosure | Palco NOS

O fantástico duo britânico Disclosure tem novo álbum na calha, Caracal, com lançamento marcado para 25 de Setembro. Talvez por isso, e pelo facto de Settle, o álbum de estreia, ser um dos nossos álbuns preferidos, era a actuação de Disclosure que nos deixava mesmo em pulgas. Mas era com alguma desconfiança que víamos uma banda constituída por apenas dois elementos, acompanhados de duas mesas de sintetizadores, sets de bateria digital e uma ou outra corda, a aparecer como cabeça de cartaz do principal palco do festival. Um palco gigante, preparado para receber 55 mil pessoas, adivinhava-se demasiado grande para os jovens produtores. Mas, felizmente, esta previsão saiu-nos completamente ao lado… Com uma impressionante projecção, em toda a extensão do palco, os irmãos Lawrence debitaram uma hora e meia de música que colocou até os mais tímidos a dançar. Houve tempo para os grandes êxitos do duo, como “Latch” ou “Help Me Lose My Mind”, mas também houve muito do novo álbum, que sinceramente nos parece que vai cair em Setembro com um autêntico estrondo. Com Disclosure já sabemos que estamos garantidos, só nos resta esperar. Por enquanto ficamos com o primeiro single de Caracal, “Holding On”, em modo repeat. 

Se é certo que estes são os nossos grandes destaques deste ano do NOS Alive, também é certo que muito ficou por ver. Faltou ver a estreia dos Flight Facilities em Portugal, faltou sentir cada acorde de Dead Combo, faltou saltar até não poder mais em Batida. Faltou conseguirmo-nos desmultiplicar e estar em todos os palcos em simultâneo.

E este foi o nosso Alive. Um Alive 2015 que tem sido rotulado como uma das edições menos bem conseguidas dos últimos anos. Mas se esta foi uma edição um pouco aquém do padrão que a Everything is New nos habituou, imaginem lá como será o melhor dos “Alives”… Para o ano estamos lá para ver!

Foto de destaque: Arlindo Machado

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