As canções d’A Naifa, dos outros


O novo álbum dos A Naifa é simples! Não vive de rasgos de virtuosismo, mas o virtuosismo desmedido nem caia bem neste cenário. É um álbum competente por músicos competentes. São nove “As canções d’A Naifa”, todas elas roupagens de temas de outros autores portugueses.

 O álbum começa de modo inesperado. Inesperado no (muito) bom sentido. “Sentidos pêsames” dos GNR não é necessariamente o tema que se esperava ouvir tocado por outros que não os próprios. Não é um tema mediático que garante “likes”, mas consegue um “ok, isto promete. Vamos ver no que isso dá”.

E o que dá, é uma viagem por décadas de música portuguesa. Com algum arrojo, ou não constasse do rol de músicas que desfilam no disco nomes sonantes, como “A tourada” ou “Desfolhada Portuguesa”. É sempre ingrato fazer algo bom, com o que já é excelente. Não sendo nada de transcendente, estas duas versões não envergonham em nada o conceito original.

Engane-se porém, quem julga que o álbum vive destes hits. Todos os temas estão bem tratados. Em todas as “recriações”, A Naifa empresta o seu cunho próprio. Gosto particularmente das versão de “Bolero do Coronel Sensível que fez amor em Monsanto” de Vitorino,  de “Libertação” original de Amália, temas obviamente com muito mais espaço para a exploração, e especialmente de “Imenso” de Paulo Bragança. A marcação “bélica” na batida da bateria, a marcha imposta pelo baixo, o toque subtil da guitarra de todos nós, e uma voz que dispara “ai como eu quero viver no plural, este singular é pior que mal…” estamos apenas a 20 segundos de musica, e ela já fez jus ao nome: “Imenso”!

A Naifa já tinham demonstrado que era capaz de compor, agora prova que sabe dispôr.

Não tem a inocência do álbum de estreia, nem o tom provocatório de 3 minutos antes da maré encher, mas no geral As canções d’A Naifa não foge ao que o projeto já nos tem habituado. Sem deslumbrarem, têm um álbum deslumbrante!

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