O fado ensina como se fecha a Maré de Agosto
O fado deu uma lição ao reggae. Estava a chegar ao fim uma já extraordinária actuação e caía o microfone de Carminho – cantava-se à capela na Maré de Agosto. Uma sensação única assolou toda a plateia, num arrepio sincronizado que varria toda a alma que fosse afortunada o suficiente para ali estar. Era a passagem para “Saia Rodada” e o fecho do primeiro e, sem sombra de dúvida, melhor concerto do último dia da Maré. Antes do arrepio houve uma actuação extraordinária com o fado que já não é só o triste fado, onde há espaço para a pura diversão e para a participação de um “grande amigo que veio de propósito de Portugal Continental”. Tiago Bettencourt, o ”filho dos Açores” fez questão de trazer um presente de aniversário a Carminho – um daqueles balões em forma de pónei cor-de-rosa – e não se esqueceu de trazer também a sua incrível voz. Carminho adorou a oferta, mas não deixou Tiago sair sem antes lhe fazer uma partida – começava a sua “Morena” e Tiago Bettencourt, estupfacto, não parava de sorrir, naquela que foi a actuação mais cúmplice de toda a Maré.
O contraste chegava no final da noite com “O Rappa”. Por entre aquela fantástica mistura de rock, rap e reggae executada na perfeição havia uma falta de ligação, de sentimento e de emoção. Aquele que seria o perfeito concerto de encerramento da Maré de Agosto tornou-se num concerto de música fora do normal –é certo -, mas sem uma ligação com público na mesma proporção. Quem já viu a Maré a fechar com os inesquecíveis Gentleman, Marcelo D2 ou Dub Inc. facilmente perceberá que, para além de ser uma honra, o fecho da Maré de Agosto é uma responsabilidade – a Maré merecia mais.
Antes de o músico brasileiro entrar em palco, houve ainda tempo para a verdadeira World Music na Maré de Agosto. Numa espécie de rock ligeiro salpicado de blues e jazz, sem congas nem djembes, Fatoumata Diawara trouxe uma onda de calor vinda directamente de África para a Praia Formosa. A sua sensual voz e fantástica banda eram os ingredientes perfeitos para por uma plateia feliz, a dançar e a sorrir por todo o lado. Até houve lugar para fogo de artifício.
Mais um ano já passou. As noites mal dormidas, mas largamente compensadas por um mar quente e cristalino, enquadrado na areia branca da Praia Formosa, já acabaram. Já não há a felicidade diária de fazer amigos e ouvir a melhor música, mas há a certeza de um regresso. O regresso que teima em se impor assim que levanta o sol de Domingo.
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