O novo Anticiclone dos Açores chegou e parece que veio para ficar
Anticiclone. Um fenómeno que desta vez não foi responsável por trazer bom tempo mas sim boa música. Cerca de trinta participantes marcaram presença em workshops, palestras, uma jam session e um concerto final, este com a plateia da Biblioteca Municipal cheia pela comunidade local que marcou presença com mais de uma centena de pessoas.
O primeiro dia ficou logo marcado pelo contributo que Yami Aloelela nos deu na sua palestra sobre Autoria e Prestação Artística, mostrando o porquê de ser cantor, autor, produtor e multi-instrumentista. Atualmente baixista de Mariza, foi também ao longo desta residência presença constante nas intervenções dos outros músicos convidados. Gonçalo Sousa trouxe um workshop de composição e improvisação orquestrado de uma forma brilhante que resultou com a plateia a conduzir o desenrolar de uma composição que tinha um pouco de cada um, que livremente improvisou partes de uma canção que acabou sendo trauteada por todos à saída da biblioteca municipal de Vila do Porto naquela primeira noite de Anticiclone.
No segundo dia o lugar foi dado à tradição local e nacional, com uma mostra de tradição mariense pelos foliões e grupo de folclore locais que alegremente deram espaço a um pé de dança partilhado por todos os que estavam na sala. O folclore é tão habitual nas noites de verão marienses mas facto é que no Anticiclone houve espaço para falar sobre as canções, vestes e instrumentos que compõem esta tradição tão rica. Fechando a noite, José Barros trouxe a sua experiência nos instrumentos de corda, nomeadamente a viola, fazendo-nos viajar pela sua história. A partilha voltou mais uma vez a ser o mote de desfecho desta segunda noite, quando as violas da terra e guitarras saíram das malas dos participantes que se juntaram a José Barros para tocar algumas músicas, nomeadamente populares de Santa Maria.
Em noite onde o palco desta residência mudou para o restaurante e centro acolhedor de artes, Espaço em Cena, Gonçalo Sousa voltou a cativar os participantes a continuar a originalidade e partilha no Workshop de Composição e Improvisação.
Depois de um jantar onde mais curiosos se juntaram à residência, a jam session começou e deu espaço a muita gente e de todas as idades para tocar um pouquinho de tudo e contar com a vasta experiência dos 4 músicos que se entregaram a Santa Maria de uma forma única.
Ali pelo meio já o olhar atento de Luís Alberto Bettencourt no meio da plateia não podia ficar indiferente ao palco que teve a honra de o receber para uma Chamateia em coro com aqueles que ficaram do jantar e os que, entretanto, apareceram no Espaço em Cena curiosos pelo que estava a acontecer.
Muitos outros temas foram tocados e sem dúvida que depois de ver os 4 músicos responsáveis pela residência a tocar juntos cada vez mais se ficou a pensar que o concerto de sábado, e que encerraria este Anticiclone, seria único. E foi. Mas já lá chegamos.
É sábado e desta vez mais cedo durante a tarde, foi a vez de Iúri Oliveira abrir a mala do mundo da percussão e confirmar que bagagem não lhe falta. Seja literalmente pela quantidade de diversos e fantásticos elementos de percussão que formam o seu trabalho em cada concerto, seja pela formação e experiência musical que este músico traz. O workshop trouxe História, histórias e partilha que terminou com um autêntico brilharete onde todos tocaram e percutiram: palmas, cajons, shakers – havia lugar para todos percutirem ao ritmo de Iúri Oliveira, que mostrou que a percussão não é só “batuques” – afinal, enquanto marcava o tempo e ensinava a plateia ainda tocava 3 ou 4 instrumentos de uma vez.
Mas à noite havia lugar para ver mais deste mundo da percussão, bem como do que cada um destes artistas tinha preparado para o desfecho deste Anticiclone na sua primeira edição: um concerto final que trouxe a fundadora deste projeto ao palco: Isabel Mesquita.
Os quatro músicos prepararam com Isabel alguns temas populares, como a Chamateia e um arranjo original que teve o privilégio de ser ouvido em primeira mão por Luís Alberto Bettencourt que compôs a música que tem letra de António Melo Sousa. Houve também lugar para tocar e cantar as palavras do poeta Paulo Ramalho com um “Ilha de Pedra e Sal” com cunho de Gonçalo Sousa nesta estreia absoluta, e em jeito de homenagem a um dos grandes músicos de Santa Maria também se tocou e cantou “Longe Tão Longe” de Mário Mariante – uma música que ainda durante a ultima Maré de Agosto se ouviu no concerto de Selma Uamusse.
No fim, alguns dos participantes foram chamados ao palco para tocar e cantar alguns temas marienses que tão bem recebidos foram pela plateia da Biblioteca Municipal de Vila do Porto como “Mariante Mariante” dos Sol Baixo ou também, e citando o verso mais conhecido de uma outra canção bastante popular: “Sol Baixo, Sol Baixinho…”
Para Isabel Mesquita, o objetivo foi conseguido e as expectativas foram superadas: conseguir partilha, envolvência, trazer vida à ilha numa altura em que não há muita coisa a acontecer e, como bem representado foi neste concerto, valorizar a tradição.
Em 2020 gostávamos de voltar a ver um Anticiclone a trazer ventos de partilha musical e cultural contemplados pela experiência, entrega e partilha de conhecimentos como se conseguiu nesta primeira edição. O novo Anticiclone dos Açores parece que veio para ficar.
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Fotos: Roberto Sousa Moura
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