Os álbuns que empurraram Tiago Franco para a música


Nirvana – MTV Unplugged in New York

Recebi este disco quando tinha 12 anos. Sentava-me todos os dias ao pé da aparelhagem, punha os auscultadores e ouvia o disco do início ao fim. Sabia tudo de cor e salteado; as letras, a diferente intensidade dos aplausos após as várias músicas, as conversas entre os músicos e sentia algo de estranho por saber que o vocalista já não era vivo.

Foi a primeira banda que me fez perceber que na música, a música era o mais importante. Pelas melodias, repetição de frases, relação entre acordes e a linha de voz única, assim como a simplicidade nas roupas, atitude, cabelos, assim como a ingenuidade nas canções que tanto me tocavam.

É um disco intemporal, tão fácil de ouvir, que sinto que faz parte de mim, lembra-me o que sentia na altura e o conjunto de valores que criou entre mim e esta arte. E esses valores não mudaram até hoje.

Foram estas as primeiras canções que me deram vontade de aprender a tocar violão sozinho.

 

Led Zeppelin – Early Days: The Best Of, Vol. 1

Eu queria ser o Jimmy Page no solo da “Stairway To Heaven”. Queria sentir aquela adrenalina mesmo antes do solo, enquanto toda a banda cria aquela secção e prepara a minha entrada… Ouvi aquilo tanta vez, que o Page já nem existia. Não tinha sido despedido, nem havia qualquer problema com ele. Simplesmente era eu quem tocava aquele solo, mesmo sem saber tocar guitarra.

Todo o disco é muito bom e culmina com esta incrível balada e sempre fiquei fascinado com todas as outras canções. É das poucas bandas onde ouço um génio, com classe, no respetivo instrumento.

Numa noite, parei a música, sentei-me na cama, às escuras e jurei que um dia iria ter uma guitarra Fender Stratocaster! Mesmo sem saber que o solo foi gravado com uma Telecaster e que a Les Paul é a guitarra ícone de Page. Mas isso é irrelevante, porque eu tenho a minha Stratocaster.

Jimi Hendrix – Band Of Gypsys

Tinha 13 anos quando os meus pais foram ao “continente” e eu fiquei atrás. Logo, fiz um ultimato – daqueles que, só nós, enquanto poderosas crianças, pudemos fazer -, “quero um disco do Jimi Hendrix!”. Combinado.

Recebi este concerto ao vivo, tocado no primeiro dia de 1970, com vários momentos de improviso em que os músicos estão inspirados, com os seus espíritos conectados aos seus instrumentos. Só pode. Quando ouço estas músicas, lembro-me que Jimi não tinha limites.

“Machine Gun” é a minha faixa favorita e ganha outra dimensão pelo contexto histórico, por ser dedicada aos militares, na altura, no Vietname. Logo, o drama da guerra deu origem a esta obra de arte.

Começa com o efeito univibe, passa para uma imitação de metralhadoras, atinge o seu auge com a longa nota por volta dos 4m e surgem vários feedbacks dramáticos, mas controlados, numa alusão a um cenário de guerra.

Como guitarrista, ainda hoje em dia meto o disco a caminho dos meus concertos, para me lembrar que não existem limites. Mas eu juro que eles existem. Para o Hendrix é que não.

 

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