PAUS trazem o “Mitra” para o Tremor


Era impossível ir para o palco principal – com intenção de ver qualquer coisa que a memória já não apanha – sem passar pelo modesto palco Clubbing. Modesto à escala do então Optimus Alive, claro. Um som de bateria completamente frenético, com um aparente exagero do uso do prato e uma força de baqueta considerável, pedia uma curta paragem a título de curiosidade. A curta paragem transformou-se, inevitavelmente, numa estadia completa assim que se vislumbra aquela bateria que afinal tinha dois bateristas, voltados um para outro, a partilhar pratos e timbalões, e que emitia um som completamente viciante.

O concerto materializou-se rapidamente na aquisição do primeiro EP da banda, “É Uma Água”, e aí começa a minha história com os PAUS. Desde esse dia já lá vão dois álbuns e um outro EP, sem contar com “Mitra”, o longa duração acabado de lançar. O álbum de estreia, homónimo, é talvez o mais marcante da banda – provavelmente por ser o primeiro -, em que a sua singularidade prontamente se demarca. A bateria e o abuso dos pratos é algo que sobressai imediatamente, mas os PAUS são mais que isso, com jogos vocais muito interessantes, contratempos de fazer saltar o coração, linhas de cordas magistralmente construídas – tudo com uma energia, uma potência arrebatadora.

“Mitra” acaba de nos chegar e aparece depois de “Clarão”, o álbum da confirmação editado em 2014. Grande evolução ao nível dos pormenores, com o uso exploratório de sintetizadores acompanhados por cordas aparentemente desconexas, com a utilização de sons simplesmente fora do espectro do habitual. Exploratório é um bom adjectivo para qualificar “Mitra”, onde claramente se vê o lado mais experimental de PAUS, mas também o lado mais cuidado, a partir tudo com mais calma e com tudo no seu sítio.

Apesar de apresentarem trabalhos verdadeiramente dignos de registo, com lugar na colecção dos amantes de música mais atentos, os PAUS têm a sua maior arma no palco. A força de uma interpretação que arrebata qualquer público vai estar presente no Tremor, numa actuação a não perder durante a semana de 15 a 19 de Março. Quem sabe se não os vemos por aí num sítio improvável, depois de uma misteriosa viagem de autocarro?

 

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Foto: (c) Dotrawphotos

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