Porto Formoso no centro do mundo com o Azores Burning Summer
Um festival de verão não pode ser só música. Um festival sem diversão, sem amizade e sem uma boa dose de conversa de pouco valerá. Mas a música, essa sim, é o mais importante, uma espécie de elo de ligação que une pessoas, estranhas e conhecidas, à volta de um palco – e que palco, o do Azores Burning Summer 2019.
E se a música é o mais importante, comecemos, sem rodeios, por aí mesmo. Passemos, rapidamente, para o início da segunda noite de Burning Summer. Se há algo que nos deixa felizes, algo que nos dá mesmo gozo, é entrar num festival, num concerto, como curiosos, apenas para depois sair como fãs. Esta é a nossa história com os First Breath After Coma.
Bem na frente do palco, teclas, baixo, guitarra e bateria alinham-se, sem protagonismos, em luz baixa e cores sóbrias. Sem projeções, sem exageros, sem distrações. Aqui, todas as atenções, todas as energias, vão para um indie viciante, a várias vozes, de cordas subtis e batida sentida, num som que não deixa ninguém indiferente.
Depois daquela surpresa, da lufada de ar fresco que nos trouxeram, só poderíamos sair vidrados – passamos mesmo a semana a ouvi-los. Mas a segunda noite de Azores Burning Summer não ficaria por aí. Salvador Sobral tinha uma palavra a dizer. Com o humor e improviso que tanto o caracterizam, Salvador Sobral fez a plateia sentar-se, fez-nos cantar a obrigatória “Amar Pelos Dois” e encantou com “Anda Estragar-me os Planos”. Faltam-lhe as “saudades e os ciúmes” e uma plateia que mantivesse toda a sua atenção no banho de jazz que trazia. É verdade que os festivais não são só música, há muita conversa e ruído de fundo, por isso dizemos – mal podemos esperar por ver Salvador Sobral no seu habitat natural, já em outubro, no Teatro Micaelense.
A noite viria trazer o funk e energia irresistíveis de Cais Sodré Funk Connection. Com um espetáculo onde vale tudo para soltar o esqueleto, uma banda vestida de gala, entre fatos vermelhos e pretos, um vestido reluzente e um vocalista vestido como o verdadeiro capitão do navio, levou a plateia ao rubro com uma ginga impecável. Não faltaram os hits da rádio, como “Everyday” ou “One Of These Days”, mas foi impossível parar durante aquelas quase duas horas de espetáculo.
Puxando a fita um pouco atrás, vamos regressar a sexta-feira. De vestido encarnado e cabeleira farta, com calor no sangue e de pé leve, Sara Tavares trouxe o mundo ao Porto Formoso. Mesmo com um público “malandro”, “um pouquito preguiçoso” de mais para acompanhar o ritmo, Sara Tavares não se cansou de dançar em palco. Uma onda de calor atingiu a Praia dos Moinhos e foi impossível não bater o pé, sob o mote de uma projeção de pessoas felizes dançando em loop. “Coisas bunitas” que nos ficarão na memória.
“A abundância de hoje / Será deserto amanhã”. Bem na linha do Azores Burning Summer, os Terrakota trouxeram também música pelo ambiente. A boa onda e música do mundo dos Terrakota não poupa na mensagem. Entre batalhas de dança em palco, trocas de instrumentos e uma grande diversidade de sons, há tempo para mensagens de paz e consciência – “Burning Summer, verão ardente, florestas milenares a arder – nós sabemos que temos que preservar a nossa casa”. Só agora o festival com preocupações ambientais estava verdadeiramente completo, com a mensagem mais importante a ser entregue em linguagem universal.
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