É inevitável. Qualquer amante de música tem sempre um concerto que lhe escapa, aquele concerto que persegue e que nunca mais chega. É a última banda que lhe falta ver, que anseia ver como se o mundo acabasse amanhã, e que sempre que toca é a brutal nostalgia daquilo que nunca chegou a acontecer. Pelo menos até a encontrar em palco, encontrar a felicidade eterna por uns dias, e voltar a procurar a derradeira banda que lhe falta ver ao vivo – “esta sim, é a derradeira”. A incessante busca encontrava-se num impasse há muito tempo.

Quando menos esperávamos, confortavelmente sentados, damos por nós a ouvir “I Wanna Dance With Somebody”, aquele hit de bola de espelhos, calças à boca de sino e muito disco fever. Não é difícil perceber que não seria Whitney Houston em pessoa, mas será difícil de imaginar que a confortável cadeira pertencia ao Teatro Micaelense e estávamos num concerto do inigualável Rodrigo Leão – o “último” artista que nos faltava ver em palco, pelo menos até há uma semana.

A verdade é que também não era um dos fundadores dos Madredeus a cantar o hit de Whitney Houston, mas sim Scott Matthew, o fantástico músico e amigo com quem Rodrigo Leão (finalmente) gravou “Life is Long”. Sozinho em palco, de guitarra em punho, o músico australiano arrebatou o Teatro Micaelense com uma versão incrivelmente tocante da música feita para dançar – até pôs toda a plateia a cantar. Momento marcante, é certo, mas com Rodrigo Leão e Scott Matthew em palco todos os momentos são marcantes.

O espetáculo trazia um “Life is long” para nos lembrar que a vida é curta. À imagem do álbum, uma profundidade penetrante invadiu a alma da plateia. A voz de Scott Matthew, de beleza única, enquadra-se perfeitamente na música de Rodrigo Leão e o resultado é algo que ficará para sempre na memória de quem teve a sorte de estar presente no Teatro Micaelense. Houve tempo para um Scott Matthew acompanhado apenas da sua guitarra e para uma curta passagem pelo percurso a solo de Rodrigo Leão – suficiente para elevar todo um espetáculo já de si fantástico a um nível transcendente.

Neste curto momento, a melancolia toma conta da cena e a música leva-nos a sítios que julgávamos não existir. Lágrimas revelam o que é de explicação impossível e um conjunto de emoções assolam-nos, arrasam-nos, e teimam em afundar-nos nas profundezas da alma. Em minutos estamos num carrossel pitoresco, sob a ‘batuta’ do piano inconfundível de Rodrigo Leão, de sorriso no rosto e com uma inexplicável felicidade proveniente do nada, com destino a lugar algum.

O lado humano na música de Rodrigo Leão é algo inexplicável. Uma espécie de esquizofrenia segue-nos numa montanha russa de emoções e leva-nos a um estado de incompreensível felicidade. Talvez por isso, por conseguirmos sentir verdadeiramente a sua música, o concerto de Rodrigo Leão para sempre será o concerto que nos falta ver.

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Foto: © Fernando Resendes