Rodrigo Leão e Scott Matthew no Teatro Micaelense


Rodrigo Leão e Scott Matthew vão estar no Teatro Micaelense na próxima sexta-feira para aquele que se será um dos melhores concertos do ano em São Miguel.

“Life is Long” é o álbum que juntou o piano de Rodrigo Leão com a voz de Scott Matthew, e que acabou por ser considerado como um dos melhores de 2016. Ponta Delgada será a primeira paragem da digressão europeia que, além de Portugal, passa também por Alemanha, Áustria, Suiça e Itália.

Em termos de sonoridade, “Life is Long” não foge àquilo que tem sido o percurso de Rodrigo Leão a solo: música pop com arranjos de orquestra que lhe conferem uma característica clássica. A novidade é que, em vez de ter vários vocalistas convidados, todo o álbum é cantado pelo australiano Scott Matthew, dono de uma voz profunda e comovente – com um timbre agradavelmente parecido com o de David Bowie –, e que foi também responsável pelas letras das canções.

A vida é longa. A frase, assim, retirada de contexto, não revela o seu sentido, e pode ser interpretada como um aspeto negativo, ou como a constatação de um aspeto positivo. Quem não se lembra das palavras amargas de Earl Partrige, no arrepiante filme “Magnolia” (1999)? Amargurado, e profundamente arrependido dos erros que cometeu, Earl, com 65 anos e em sofrimento, à beira da morte, diz que “A vida é muito dura. Demasiado longa. A vida não é curta. É comprida”. Mas a expressão pode significar também o expoente oposto: pode ser a afirmação da beleza da vida e do tempo que temos para a desfrutar.

No recente álbum de Rodrigo Leão e Scott Matthew a ideia parece ser outra. “Start, Stop.Tic Tac”. “A vida é longa. Como é que os dias passam tão depressa?”. “Passou mais um dia que foi desperdiçado”. É assim que termina o álbum, para nos dizer que, afinal, a vida é longa… mas passa depressa.

João Cordeiro

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Percurso

Rodrigo Leão é um dos maiores nomes da música portuguesa, embora quase nunca nos lembremos disso. Se tivéssemos hábitos britânicos e D. Duarte governasse o nosso país, este artigo seria provavelmente sobre “Sir Rodrigo Leão”. Foi um dos fundadores dos Sétima Legião e co-fundador dos Madredeus, juntamente com outro “Sir”: Ayres Magalhães. Os Sétima Legião são um ícone do pop rock português, que marcou uma geração. Os Madredeus, minhas senhoras e meus senhores, são apenas a banda portuguesa mais internacional que Portugal já deu ao mundo. Mas Rodrigo Leão (vou deixar cair o “Sir”, por agora), foi, e é, mais do que isso. Tem uma discografia que impõe respeito, e ainda compôs para cinema e para documentários televisivos.

Ave Mundi Luminar

“Ave Mundi Luminar”, álbum de estreia a solo de Rodrigo Leão, marca uma mudança na sonoridade, quando comparada com as experiências anteriores do músico nas suas bandas. O álbum é um cruzamento entre música erudita – reforçada talvez pelas letras em latim – e música para cinema. Esta é a melhor definição para explicar o que esperar de “Ave Mundi Luminar”. Com a participação de Teresa Salgueiro – também vocalista de Madredeus – entre outros artistas, o disco é uma excelente banda sonora para a introspeção. Não é um conjunto de canções para figurar em ‘playlists’ de rádio. O único tema que empresta algum movimento é precisamente o que tem como título “Movimento”. O tema de abertura, “Ave Mundi”, encaixa em qualquer película digna do Festival de Cannes. Outro tema que, bem explorado, consegue ter várias aplicações, é “O Medo”.

Lázaro Raposo

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Foto: Rita Carmo

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