Depois daquela sexta-feira memorável, o último dia da Maré de Agosto era um bónus. Ouviu-se, entre o público, que a partir do momento em que Ornatos Violeta saíram do palco, a Maré estava ganha. Mas ainda havia muito mar para desbravar.

A começar a noite, Morgane Ji trouxe à Praia Formosa o lado mais experimental da Maré de Agosto. Dois microfones, uma mesa de mistura e um mar de pedais junto a Morgane Ji conferiam mil caras à sua voz, envolta em sons tribais que nos faziam querer mexer. “You are so lucky to live in this Island” – somos mesmo uns sortudos por viver aqui, nem que seja apenas 5 dias por ano.

Passam 30 minutos da meia-noite. A noite está quente e a chuva que fez renascer ribeiras por toda a ilha de Santa Maria fugiu para longe. Em palco estão pousados, em cima de um tapete cinzento, uns imponentes saltos altos encarnados. Selma Uamusse livrou-se do calçado para poder dançar e saltar ainda mais, para poder seguir no seu espetáculo de impressionante comunhão com o público. Aqui houve muita e boa música, não falhando a incontornável Matti, que continua a soar-nos no ouvido, mas houve muito mais que isso.

Na Praia Formosa houve uma Selma nunca nos sairá da memória. Uma Selma que ultrapassa as barreiras da música, que transmite amor por onde passa. A moçambicana que encontrou espaço no seu coração para também ser portuguesa conseguiu tocar no coração de toda a plateia com uma entrega formidável e genuinidade incrível. Entre muita dança, coreografias, e uma simplicidade irresistível, Selma Uamusse desceu ao palco, subiu a colina e cantou sentada numa manta como uma verdadeira mariense. Selma conseguiu até abrir uma clareira no meio da multidão, até se ver acompanhada de um mar de gente, todos sentados ao seu lado, enquanto cantava uma canção do grande mariense Mário Mariante. “Longe tão longe/ E a viagem que tanto dói / Dizer-te amigo é perto / Tão perto / E a ausência dói ” – até para o ano, Maré de Agosto.

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Fotos: © Maré de Agosto / Derrick Sousa