Pôr-do-sol quente em fim de tarde frio. Na Serra, rasgada naquele descapotável clássico, respira-se serenidade, paz, num enquadramento rico em folhas caídas e tons de Outono. Aqui estou. Aqui quero estar, e cheguei pela mão de “Burning Hands”, álbum de estreia do duo Few Fingers.

O álbum é de facto de estreia, mas maturidade é algo que não falta ao registo. Numa linha muito simples, os sons que misturam gentilmente o folk e o indie levam-nos subtilmente numa viagem que só termina com a derradeira faixa. É fácil perceber que este é, definitivamente, um daqueles álbuns que valem como um todo, que não se ficam por uma ou outra faixa de grande destaque – aqui conta-se uma história, vive-se o disco.

A simplicidade talvez seja mesmo o que melhor caracteriza os Few Fingers. A pretensão de não ter pretensões, a aceitação de que nada vai ser inventado e a mestria de Nuno Rancho e André Pereira tornam o som deste duo em algo que não revoluciona mas funciona. Funciona porque atinge sem ferir. Funciona porque a leveza e simplicidade transmitem um certo sentimento de pertença. Sentimento este que, curiosamente, contrasta com uma das grandes mensagens presentes no disco: a dificuldade dos relacionamentos interpessoais num mundo em que estamos perto dos que estão longe e longe dos que estão perto.

Se este é um daqueles álbuns que pode passar despercebido no meio de uma grande colecção de discos? Pode até ser, mas uma coisa é certa, sempre que o disco cair no deck vai valer bem a pena. Algo nos vai atirar para um sítio de onde provavelmente vamos teimar em não regressar. E até pode não ser todos os dias, ou todas as semanas, mas temos a certeza que mais cedo ou mais tarde vamos ter que voltar a ouvi-lo.

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O vídeo do segundo single do álbum, acabado de lançar pela Antena 3, é um hino à família, às raízes. Aqui vive-se o regresso à aldeia, visitam-se os familiares que ficaram. Simples, à imagem dos Few Fingers, e claramente divertido.