Há 10 anos a Maré de Agosto ia na sua 25ª edição. Naquele ano, dois grandes painéis cobriam, pela primeira vez, as estruturas laterais do palco. Por lá liam-se os pilares de um festival que é mais do que um festival. Um festival que é a celebração de uma ilha, de um povo. De todas aquelas palavras, onde facilmente se encontram “descoberta”, “experiência” ou até mesmo o tão próprio “spirrit”, cada vez mais me convenço que “amizade” é o que melhor descreve a Maré. Hoje, aquelas palavras mágicas ainda lá estão, no mesmo painel de sempre – nunca deixaram de fazer sentido.

A primeira noite da 35ª Maré de Agosto adivinhava-se difícil. Chovia há dias seguidos e os festivaleiros, acampados há dois dias, começavam a perder o brilho nos olhos. Muitos nem ousaram sair da tenda para ver Maruja Limón, Da Cruz, Muyayo Rif e DJ Wise Guy. Nós, ainda um pouco deprimidos com o tempo, lá fomos para o pequeno recinto à beira-mar plantado. A plateia estava longe de cheia e a colina não tinha viva alma. A chuva ia e vinha, mas nada podia abalar o grande concerto de Da Cruz.

Vinda da Suíça, mas originária do Brasil, Da Cruz traz o tropical cosmopolita. Com bateria, guitarra, Da Cruz na voz e dois sopros, aqui há ginga, energia, boa disposição e música pertinente. Há uma mensagem, há referências políticas, mas não pode deixar de “tirar o pé do chão”. Um repertório muito bem montado manteve o público na linha, mesmo com águas mil, bem até ao final, até ao descer da irresistível “Bola de Discoteca” já com uma dúzia de pessoas da plateia a dançar no palco. “A vida é boa”, diz Da Cruz – é mesmo, caia a chuva que cair!

O resto da noite trazia Muyayo Rif, uns rapazes vindos de Barcelona com uma energia contagiante, muito propulsionada por um passo bem marcado na bateria, um baixo orelhudo e um trio de sopros extremamente bem coordenado. O público fartou-se de saltar até encontrar o ritmo caribe de Wise Guy. No meio de tudo isso, fizemos o que mais gostamos na maré – falamos com todos os nossos amigos marienses, colocamos a conversa em dia, bebemos aquela cerveja que ficou em falta desde o ano passado – celebramos a amizade.

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Fotos: © Maré de Agosto / Derrick Sousa