Tantra: o mistério e a maravilha
Por incrível que pareça, Portugal até tem alguma expressão de Prog Rock. Naturalmente, numa escala muito inferior à do Reino Unido, por exemplo, mas mesmo assim, para quem souber procurar, existe material muito bom, como este Mistérios e Maravilhas dos Tantra.
Antes demais, vamo-nos situar: este álbum data de 1977, é o trabalho de estreia dos portugueses Tantra, que contavam, na sua formação, com músicos como Tozé Almeida e Pedro Ayres Magalhães, futuros baterista e baixista dos Heróis do Mar respectivamente. Nessa altura o Rock Progressivo estava em voga (ainda hoje, as melhores obras do género são dessa década).
À primeira vista, a tendência é comparar os Tantra aos Genesis, talvez um pouco pela postura teatral de Manuel Cardoso, a fazer lembrar o próprio Peter Gabriel. São inevitáveis as comparações na esfera do Rock, mas comparar Tantra a Genesis é… pouco. Aos 4 minutos e 22 segundos do tema “À beira do fim”, podia jurar que estava a ouvir Yes: uma entrada enérgica que culmina num “passeio relaxante” de sintetizador ao estilo de Rick Wakeman.
Outro exemplo: no tema “Máquina da Felicidade” conseguem-se encontrar vestígios de Emerson, Lake & Palmer (ELP). Tozé Almeida (autor do tema) é um monstro. A sua execução enche uma aparelhagem e deixa-nos perplexos a pensar se “este será mesmo o baterista dos Heróis do Mar”. A música tem uma secção de teclas que não sei se consigo explicar com palavras. Talvez não haja mesmo forma de o fazer!
O tema “Aventuras de um Dragão num Aquário” parece retirado de um qualquer álbum de Yes, com uma sonoridade que nos remete para os excertos mais “clássicos” de Steve Howe.
O álbum termina com um tema que parece ser um misto de King Crimson e Yes e, lá está, um toque aportuguesado de Peter Gabriel! “Partir sempre” é ‘misterioso e maravilhoso’. Tem tudo o que se pode esperar de um bom tema progressivo: virtuosismo, excentricidade musical e está carregado de sentimento.
“Mistérios e Maravilhas”, como todos os grandes álbuns portugueses da mesma altura, padece de um mal: um atraso em relação ao resto da Europa e do Mundo. E um atraso “interno”: maior divulgação e melhor distribuição poderiam ter colocado muitas bandas no topo. Ouvindo o albúm, conseguem identificar-se tantas referências, que acabam por dar origem a uma sonoridade e identidade própria, com a particularidade de ser cantado na língua de Luis de Camões e de Fernando Pessoa.
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