We Sea: synth-pop com nevoeiro e pimenta da terra
Há quatro anos o Meia de Rock deliciava-se com o concerto de apresentação do álbum de estreia dos Broad Beans, no Arco 8, em Ponta Delgada, e adivinhava um futuro risonho para a banda que vinha da cidade vizinha, Ribeira Grande: “Os jovens da costa norte de São Miguel podem e devem sonhar alto, apontar para grandes voos”. A verdade é que, em vez de ser uma rampa de lançamento, o disco acabou por marcar o ponto final no percurso de uma das mais interessantes e criativas bandas de São Miguel daquela altura.
Mas, se chegava ao fim a história dos Broad Beans, outra história estava por contar. Rofino e Clemente continuaram a encontrar-se para criar música. Com o convite para o primeiro concerto, na edição de estreia do Woodstoking Azores, começou a desenhar-se o caminho que levaria a “Basbaque”, o álbum de estreia editado em maio.
Embora de difícil catalogação, “Basbaque” pode ser apresentado como um álbum de synth-pop envolto em nevoeiro e pimenta da terra. Nevoeiro pelo clima cinzento de “ilha de bruma” que o atravessa. Pimenta da terra pelo sotaque micaelense exibido com orgulho e sem complexos.
Os We Sea tratam a língua portuguesa com toda a delicadeza e gostam de nos fazer recorrer ao dicionário para mergulhar na essência dos seus poemas. “Ínterim” é o intervalo entre dois acontecimentos, “mormaço” é um tempo quente e húmido, e “venusto” é algo que tem grande beleza. Todas estas lições numa canção apenas.
O próprio título do álbum – que também dá título a uma das grandes canções dos We Sea – “Basbaque”, é palavra que aguça a curiosidade. Parece que quer dizer “aquele que se pasma de tudo”, e que também pode ser sinónimo de “parvo” ou “palerma”.
E não são só as palavras que são bem tratadas por esta dupla micaelense. Gravado e produzido pelos próprios músicos, sem a rede de segurança que um produtor experiente garante, mas também sem limites, interferências e receitas pré-fabricadas, “Basbaque” tem um som brutal, em que sobressai um grande domínio dos sintetizadores e das batidas eletrónicas.
Adeptos de uma estética que caracterizou os anos oitenta, na imagem e no som, os We Sea abraçam também a tecnologia desta década já distante e lançaram o álbum também em K7.
Na agenda estão previstos vários concertos para os próximos meses: no Bar Aljube (26 de julho), Bar Raíz (16 de agosto), Fábrica da Baleia, no Faial (31 de agosto) e no Jardim Fest (6 de setembro).
“Não há nada, nem ninguém, que não queira o que não tem”. E os We Sea têm toda a legitimidade para querer chegar cada vez mais longe.
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Foto: Direitos Reservados
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