Zambujo vira o fado “Do Avesso” e encontra o rock
Foi com o fado e com o cante alentejano – muito antes de terem sido declarados como Património Imaterial da Humanidade – que António Zambujo apareceu na cena musical portuguesa. Com os primeiros três álbuns, foi praticamente um figurante, mas ao quarto álbum – “Guia” (2010) – o músico passou a estrela principal com “Readers Digest” e a sua versão de “Zorro”. Entretanto, deu um pulo ao Brasil, com um fantástico disco com versões de temas de Chico Buarque, bateu recordes com uma série inacreditável de 28 concertos ao lado de Miguel Araújo nos Coliseus de Lisboa e Porto, e tem sido trunfo para dar visibilidade a outros artistas como Dengaz ou Carolina Deslandes, participando nos seus singles. “Do Avesso”, que é mais uma remada nesta viagem por sonoridades ‘nunca dantes navegadas’ por António Zambujo, chega a roçar o rock com “Não Interessa Nada” ou “Sem Palavras”, temas que podiam bem ter saído de um “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, e talvez ainda mais do “Pet Sounds”, dos Beach Boys. Bem sei que estes dois álbuns – considerados por muitos como os melhores, ou mais influentes da história do rock – são apontados como referência demasiadas vezes, algumas até de forma leviana, mas aqui não é exagero. Os únicos resquícios de fado que ainda se encontram neste disco são as nuances de voz que têm uma assinatura inconfundível e uma guitarra portuguesa que aparece apenas em “Multimilionário”, sem ser sequer o centro das atenções. “Do Avesso” tem uma sonoridade – assumida pelo próprio autor – que vem do universo Tom Waits, tem uma colaboração fundamental da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, e tem letras geniais que resumo com esta passagem: “quem compreende um gato, compreende um universo”.
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Foto: Direitos Reservados
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