Não há temporal que estrague o espírito da Maré!


Maré de Agosto é a felicidade dos dois lados do palco. Maré é ver artistas que estão habituados a tocar para dezenas de milhar de pessoas ficarem aos pulos numa estupefacta despedida perante uma plateia de quatro mil festivaleiros. Poucos, mas bons. Poucos, mas os melhores. Resistentes a duas horas de chuva intensa para aproveitar o fantástico espectáculo de Maria Gadú.

Três músicos foram suficientes para acompanhar a artista vinda do Brasil. Havia uma bateria formidável, um baixo incrível e a fantástica Maria Gadú na voz e guitarra, mas era aquele violoncelo sublime que fazia a pele arrepiar. Naquele mar de guarda-sois convertidos em guarda-chuvas toda a música de Gadú ganhava uma outra dimensão com o arranhar da crina nas cordas do instrumento. Houve versões incríveis – hoje acordamos com aquele “Ne Me Quitte Pas” na cabeça -, os êxitos de sempre e aquele “Shimbalaiê” de dez minutos, com solos de outro mundo e com o público completamente rendido – e inevitavelmente enxarcado da cabeça aos pés.

Ao início da noite, a chuva forte havia empurrado o concerto de Pat Thomas & Kwashibu Area Band para hora incerta. Quando S. Pedro decidiu dar uma trégua entraram em acção as congas, o saxofone e trompete, o órgão catita e as danças sincronizadas entre baixo e guitarra. Do Gana chegou a felicidade, com Pat Thomas a fazer aquele concerto bem o jeito da Maré de Agosto – muita gente em palco, muito boa música e um público que não consegue parar de dançar, apesar de nunca sequer ter ouvido falar em tal artista.

Os concertos do Palco Maré acabariam com Marina Ojos de Brujo. Os ritmos latinos invadiram a Maré, com a Rumba e o Flamenco moderno de Marina. Muito se dançou antes de Luís Varatojo – o DJ que iria tomar conta das hostes do palco principal até ao final da noite – subir ao tecto do bar da Maré. Mas nós não ficamos para contar, seguimos viagem para outras paragens, para um dos mais aguardados concertos desta edição da Maré de Agosto.

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“Trazido pelo vento” JP Simões chegou ao Espaço Castelo. A chuva fez as pazes com a Maré e a ruína que havia sido abandonada do alinhamento do festival voltaria com a melhor reabertura possível na presença do extraordinário músico de Coimbra. Bem ao estilo do Castelo, houve concerto para aqueles que dispensam os disc jokeys e apreciam verdadeiramente a música tocada, num ambiente intimista e com uma atmosfera contagiante. Fazendo acompanhar-se de fantásticos músicos, JP trouxe não só “Temble Like Flower” em estreia absoluta, mas também o seu humor e simpatia, num concerto em que JP até podia ser tratado por tu.

O primeiro dia de Maré já foi. Ao som do arrebentar das ondas esperamos por mais, com expectativas altíssimas e agora com a certeza que não há temporal que páre a Maré, não há nada que quebre o festival com mais espírito de sempre.

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