A Naifa leva ao Teatro Micaelense as “suas” canções


A Naifa vem a Ponta Delgada e traz na bagagem as suas canções e as dos outros. Confuso? Passo a explicar: “As Canções d’A Naifa” é o mais recente álbum da banda, que reúne versões de nove temas de artistas portugueses que ao longo da última década fizeram parte dos seus espectáculos. Este é o ponto de partida para o concerto que A Naifa leva no próximo sábado (22 de Fevereiro) ao Teatro Micaelense. O Meia de Rock esteve à conversa com o guitarrista Luís Varatojo.

Porque razão decidiram celebrar a primeira década de carreira com um disco de versões?

Não há nenhuma razão específica. Nós nem estamos propriamente a assinalar esta data, não marcamos nenhum concerto especial. Estamos a fazer o mesmo que fizemos para os outros discos. Uma digressão alargada, tanto quanto possível, a todo o País. Tentar ir a todo o lado, que é o que temos feito desde 2004. Nós já temos quatro discos de originais, e ao longo destes anos fomos juntando algumas versões de canções portuguesas de que nós gostamos e que temos vindo a tocar desde 2004. Apercebemo-nos que tínhamos um conjunto de versões que formavam um objecto coerente, e que algum dia haviam de ser registadas. Decidimos fazê-lo agora.

“As Canções d’A Naifa” é um álbum marcado por autores conotados com a esquerda.

Estas são canções que nós gostamos e que, como eu disse há pouco, fomos tocando ao longo dos anos. Claro que a escolha não é inocente, estes temas têm a ver com aquilo que são os originais d’Anaifa, por isso é que elas se integram bem no nosso repertório. As canções não são todas de autores de esquerda nem de direita. Temos aqui, por exemplo, a “Libertação” – um fado que a Amália gravou nos anos 50, que é do David Mourão Ferreira –,  a “Desfolhada”, que foi cantada pela Simone, Sentidos Pêsames dos GNR, Subida aos Céus, que foi interpretada pelos Três Tristes Tigres, há uma letra do António Lobo Antunes com música do Vitorino… Há aqui um pouco de tudo. Há aqui histórias do dia-a-dia. Há aqui histórias de amor. E há uma canção que, apesar de nunca falar em política, tem uma característica política, que é a Tourada. Toda gente sabe que foi um música feita antes da Revolução do 25 de Abril, numa altura em que não se podia escrever qualquer coisa. Tudo passava pelo crivo da censura. E o Ary dos Santos fez esta letra sem nunca falar em política, falando sempre do ambiente de uma tourada conseguiu fazer o retrato do País e conseguiu que a música ganhasse mesmo o Festival da Canção.

Os concertos desta digressão, que vai passar pelo Teatro Micaelense, centra-se essencialmente no novo álbum?

Nós temos estado a tocar o disco na íntegra. De qualquer forma, corresponde a um terço do espectáculo. O resto passa pelo nosso repertório de originais, que já extenso, com mais de 60 canções. Temos uma escolha de canções dos quatro discos, algumas delas com um novo arranjo: há uma altura no espectáulo em que cada um sai da sua posição habitual e toca outro instrumento. Também há uma componente vídeo, que nós nunca tínhamos usado. Tentámos fazer um espectáculo coerente e coeso, mas com alguma variedade. Até agora tem resultado muito bem.

O facto de a digressão passar essencialmente por teatros e auditórios não é um acaso…

Não. É um circuito que conhecemos bem e que fazemos desde 2005. Todas as tours têm passado sobretudo por auditórios e teatros. Não é que não tenhamos feito alguns concertos ao ar livre e alguns festivais, mas, realmente, 90 por cento dos espectáculos são dentro deste circuito. Nós sentimo-nos bem e o público também se sente bem. São normalmente espaços com boa acústica, com bons equipamentos de som e iluminação, onde se consegue o silêncio necessário para se perceber o que se está a passar no palco, onde se pode estar sentado de forma confortável a assistir ao espectáculo. Felizmente temos estes recintos agora. Eu já sou músico desde o fim dos anos 80, e até meados dos anos 90, não existia esta rede de teatros e auditórios. Nós encontrávamos muitos destes espaços destruídos pelo País, por falta de funcionamento. É muito importante termos esta rede que permite que os artistas andem pelo País inteiro a mostrar o seu trabalho.

A Naifa tem uma série de ligações com os Açores…

É verdade, nós temos várias ligações com os Açores. Algumas surgiram da nossa busca pelos poemas e de matéria para fazer novas canções. Conhecemos, por exemplo, a Ana Paula Inácio, que vive na Terceira e que tem poemas em dois discos nossos. Também conhecemos a Renata Correia Botelho, de São Miguel. Gostámos muito de um livro dela e retiramos três poemas para fazer uma música. Ficamos muito amigos. Vamos certamente estar com ela na próxima semana. Também temos muitos amigos na Horta. Há uma série de pessoas que fazem bastante trabalho em torno da cultura. Estou a falar do Teatro de Giz. Já conhecíamos algumas pessoas e isso fez com que tivessemos ido ao Faial, não só na primeira tour, como em todas as outras desde então – só nesta é que não vamos fazer. Isto tem a ver com este grupo de amigos, que era pequeno e agora é grande.

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