A terapia dos blues por King John


É do sótão que continuam a sair os fantásticos registos de King John. Está cá fora “Blues Better Than Terapy”, o EP que mostra de que cor é o sangue real – blues!

Não, King John já não é o músico revelação daquele Tremor. Já não é aquele rapaz que de um momento para o outro decidiu deixar a sua vida para trás, pegar na guitarra e ser músico. Já não é aquele som espectacular que sempre que viva alma ouve solta um “esse ‘gajo’ é açoriano?!”. Agora o Rei é só o Rei. Vale por si só, vale por cá e por lá. Continua a ser aquele som espectacular, mas tudo o resto é paisagem. Pormenores que a imensidão de um talento ofusca.

“Blues Better Than Terapy” andava na mala de viagem. Malino, fez se esperar e foi espreitando o mundo ao seu ritmo. Passou por Santa Maria, na Maré de Agosto, e pelo Azores Burning Summer do Porto Formoso, e foi acabar no Arco 8 ali em Santa Clara. Adivinha-se arrebatador, com socos em partes baixas e uivos de lobo vadio, com vida própria e uma qualidade de outro mundo.

A inteligente espera valeu pela vida. No novo EP há mesmo blues melhor que terapia, com alma de Rei, ao sabor do coração e sem a preocupação de agradar o povo. Há malhas à antiga e de pêlo na venta com o rebaptizado e previamente divulgado “Punch Below The Belt”, há blues de sorriso aberto com “Hour of The Wolf” e blues de sorriso fechado com “Nevermore”. Há também guitarradas de meia noite com o tema que dá nome ao álbum, mas é com “Gold Locks” que o jogo muda. Seis minutos de slow que conseguem levar-nos para um sítio difícil de chegar, difícil de imaginar e impossível de explicar – a solução passa por ouvir, ouvir de ponta a ponta.

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Foto: Vera Marmelo

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