“A Viagem dos Capitães da Areia a Bordo do Apolo 70”


“And now for something completely different”. Podia ser este o título do novo álbum dos Capitães da Areia, não se tivessem os Monty Python antecipado por algumas décadas. É que “A Viagem dos Capitães da Areia a bordo do Apolo 70” é realmente diferente de tudo o que já ouvimos na história da música portuguesa.

Se, musicalmente, o álbum é apenas um regresso ao universo synthpop dos anos 80, que encontra paralelo na sonoridade dos Heróis do Mar, por exemplo, já no que diz respeito ao conceito do álbum, é preciso enaltecer a coragem, a ousadia, e a originalidade desta jovem banda.

“A Viagem dos Capitães da Areia a bordo do Apolo 70” é quase uma rádio-novela cómica, uma aventura épica pelo espaço que conta com a participação – de forma totalmente invulgar – de vários intervenientes da música portuguesa que marcou as últimas décadas, e com momentos de puro ‘sketch’ humorístico, como é o caso da situação representada no diálogo inicial do álbum, em que os ‘capitães’ procuram a Constituição Portuguesa de 1976 na secção de ficção da Livraria Apolo 70, ou o almoço com Bruno Aleixo – o cão rezingão que conversa com o busto de Napoleão sobre tudo e mais alguma coisa.

A esta altura, o artigo pode estar a deixar de fazer sentido para quem ainda não ouviu o álbum, por isso deixo aqui a explicação do conceito pelos próprios Capitães da Areia: “Num passeio a pé pela Avenida da República, Os Capitães da Areia vão à livraria do Centro Comercial Apolo 70, no Campo Pequeno, em Lisboa. Sem querer, desencadeiam um mecanismo que transforma o Centro Comercial numa estupenda Espaço-Nave, partindo para uma odisseia intergaláctica cheia de peripécias delirantes e encontros cósmicos com artistas”.

Estes encontros são tão frequentes quanto bizarros, e fazem-me mesmo lembrar a “Festa da Música Tupiniquim”, em que Gabriel o Pensador junta – metaforicamente – os grandes nomes da música popular brasileira. A diferença é que os Capitães da Areia conseguiram que muitos artistas emprestassem a sua voz ao disco – não necessariamente para cantar.

Ao longo da sua aventura, os Capitães da Areia encontram José Cid “algures entre Vénus e Marte”, travam a “célebre batalha da Cassiopeia” com Capitão Fausto, encontram Samel Úria e Tiago Guillul num planeta ‘chunga’ depois de serem barrados à entrada do planeta Frágil (discoteca de Lisboa), assistem ao duelo de reis entre Rui Pregal da Cunha e Toy (sim, o dos “Olhos de Água”), ouvem a “balada do gasolineiro” Tiago Bettencourt, perdem o companheiro de banda Vasco Ramalho, que sucumbe perante o encanto da ninfa Lena D´Água, são reconfortados pelo Sol – Miguel Ângelo – que recita “um lugar ao sol”, e regressam a um Portugal desolador, pelas mãos de Manuel Fúria.

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