Agulha de Vinil: Linda Martini – Turbo Lento


Os Linda Martini já não são aquela banda desconhecida, que era seguida por um número de fãs limitados mas fiéis, que no início deste século assistiam aos seus concertos inquietantes e explosivos, caraterísticos de uma noite só, em que as emoções se arrebatam e os músicos se transcendem. O seu novo álbum, Turbo Lento, agora pertence à Universal, a mesma Editora dos Pearl Jam ou da Lady Gaga. A banda cresceu e é o tempo da procura por outro panorama mais amplo no universo da música. No entanto, no estilo, nada mudou – a personalidade dos seus registos e os riffs pujantes com crescendos e acalmias cingidos a um hardcore catártico. Esse crescimento que a banda assume não é uma tentativa pérfida. Eles parecem dizer-nos que há um tempo para tudo, e que apesar da exposição maior a que agora estão sujeitos continuam a ser os mesmos músicos que tocavam para concertos intimistas de 30 pessoas.

O novo álbum do quarteto composto por André Henriques, Cláudia Guerreiro, Pedro Geraldes e Hélio Morais, que em 2003 começavam a ensaiar e a criar canções, remanesce para esses dias primórdios da fundação dos Linda Martini, e admitem essa intenção de regresso ao seu estilo inicial, volvidos dez anos a trabalhar em conjunto. A história discográfica dos Linda Martini começa com registos que nos levam ao seu EP inicial e ao álbum “Olhos de Mongol” (2006). “Marsupial” (2008), “Intervalo” (2009), gravado ao vivo, e o álbum “Casa Ocupada” (2010), são os outros trabalhos da discografia que agora se completa com o novo álbum, o terceiro disco de estúdio da banda. Os dez anos de existência levaram a banda a disponibilizar toda a sua discografia em formato digital e todas as suas canções podem ser ouvidas no Spotify, gratuitamente.

Já foi dito que existe um retorno, mas este não se traduz em falta de evolução, não há no regresso um retrocesso, e de facto, a busca pela musicalidade própria dos Linda Martini traduz-se no seu estilo caraterístico, sem compromissos, sendo que os onze temas que compõem Turbo Lento, trazem-nos canções como “Juárez”, no seu punk puro, direto e agressivo, “Panteão”, poético e sentido, “Pirâmica”, intensa e dramática, Febril (Tanto Mar) com um excerto de uma música de Chico Buarque, a instrumental “Ninguém tropeça nos dias” ou “Ratos”, que já tinha sido lançado como single há meses como pronúncio do álbum.

O disco é provido, todo ele, com muito punk e algum rock à mistura, e está cheio de sentimentos, questões existenciais que ficam a pairar no ar e, essa poesia que transborda emoções chega-nos sempre, aconteça o que acontecer na língua de Camões, porquanto a sua avidez de criatividade perscruta a nossa inquietude e nos traz arte em forma de música, e desta vez portuguesa.

 

+ There are no comments

Add yours