Ao segundo álbum Os Velhos ganham nova vida


O segundo álbum d‘Os Velhos é quase um recomeço: visual novo, atitude nova e sonoridade nova. Uma autêntica revolução nos três pilares que melhor definem qualquer banda.

As t-shirts já não fazem parte do guarda-roupa, agora todos usam camisa, e os cabelos (incluindo os da cara) estão mais curtos e cuidados. Mas o que mais mudou foi o som: “Os Velhos” (entre aspas porque é também o nome do álbum) tem um som cheio e harmonioso, carregado de emoção, e está recheado de magníficas baladas rock.

Os Velhos do primeiro álbum eram adolescentes irreverentes à procura da sua identidade, ou talvez a tentar negar uma identidade através de uma busca artificial pela diferença. Uma vontade tão grande de ser irreverente e ‘cool’, que chega a ser irritante. Estarei a ser injusto, certamente, porque os Velhos de hoje não aparecem por acaso, há um percurso que teve que ser percorrido para aqui chegar, mas a verdade é que alternar entre as comoventes e profundas canções deste segundo álbum e os primeiros trabalhos da banda, levou-me do fascínio à irritação, e da irritação de volta ao fascínio.

Para trás ficam o punk de refrões gritados em plenos pulmões de “Senhora do Monte” e os nove minutos e cinquenta e sete segundos de underground lo-fi que cresce até ao caos de “Maria Diz”.

A maturidade bateu forte n’Os Velhos, que agora cantam poemas de amor que, sem medo das palavras, dizem “amo-te toda” e “casa comigo”, com a dose certa de ‘lamechice’, que só aumenta a verdade da mensagem.

“Os Velhos” é um álbum perfeitamente equilibrado e homogéneo, que arruma nove canções que se encaixam de forma natural e complementar. Um resultado para o qual o trabalho de gravação e produção de João Só terá contruibuído de forma significativa, e que marca a inversão da atitude da banda perante as gravações. Basta lembrar as palavras de Pedro Lucas, numa entrevista ao “IOL Música”, em 2011, em que, sobre o primeiro álbum, o baterista afirmava o seguinte: “Há pequenas imperfeições que nós acarinhamos. Vamos para sempre lembrar-nos que no “Maria Diz”, a certa altura, a corda partiu-se e continuámos a tocar e ficou gravado assim”.

Neste segundo álbum não há imperfeições. Os timbres das guitarras e do órgão foram aprimorados, o espaço de cada instrumento está equilibrado ao pormenor, e as harmonias vocais não foram feitas ao acaso. Com canções simples e despretenciosas, Os Velhos põem as cartas na mesa, mostram o jogo, abrem o coração e despejam as entranhas. A entrega é total.

Podemos ter que esperar muitos anos até Os Velhos editarem outro álbum, já que a vida profissional deste quarteto de artquitetos obriga a um processo criativo lento, mas não há dúvida de que estes “velhos” têm o futuro todo à sua frente. O álbum está disponível, de forma gratuita, em www.velhos.bandcamp.com.

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