Aos quarenta anos de carreira: Gimba está ‘no ponto’


Wow! Há já algum tempo que não era surpreendido desta maneira! Gimba escreveu o que queria dizer e gravou como quis: canções transparentes, autênticas e genuínas.

 Gimba canta como quem fala. E deixa precisamente registado esse seu estilo para que possa, nas suas próprias palavras, “servir de bitola para novos compositores se expressarem em bom português”. E ele expressa-se bem, ora num registo mais interventivo, ora num registo mais romântico.

E fá-lo com uma naturalidade que parece fácil. E quando se junta a música? Ui! Os acordes encaixam nos textos como se fossem vírgulas. Como, por exemplo, em “Sete Bruxas”. A cadência incremental da canção faz-nos ficar agarrados à aparelhagem e à calculadora. Sete bruxas, sete refrões diferentes, e uma lengalenga daquelas que os avós ensinam aos netos. 

Gimba também homenageia os seus “colegas e amigos”, tudo “gente boa com quem cantou a vida inteira”, como podemos ouvir em “Ruiveloseando”. O jogo de palavras neste tema está ‘demais’. E o balanço da música? Assim, de repente, só me ocorre Lee Morgan (“The Sidewinder”).

Já disponível para visualização no Youtube, está o single do disco, “Vá lá”.  E “Vá lá” tem a particularidade de contar com um elenco de luxo como Tim, José Cid, António Zambujo, Camané, Ana Bacalhau, Rita Redshoes, entre muitos outros. Doze no total.

A sua amada Lisboa também está sempre presente (“Chiado” e “São Bento”). Narrativa perfeitamente descritiva, que nos consegue dar uma imagem tão sólida da capital como se fosse uma fotografia.

vaudeville de “As Praias de Lisboa” transporta-nos sonoramente para um cenário pré-ditadorial, que vem a ser completado liricamente, como um verão na estância balnear de Algés.

Ainda temos o noticiário de “Não é Mania, Não!”, lamentos nostálgicos em “A Minha Amada” e outras metáforas amorosas, que infelizmente não tenho espaço para individualizar.

Para finalizar duas notas: A primeira é que “Ponto G” é um disco liricamente soberbo. O que nos deixa a pensar ‘porque raio Gimba tem tão pouco material a solo?’. O segundo ponto (sem intenção de trocadilho) é referente à música: simples, minimalista, no entanto complexa. Complexa porque a simplicidade é uma arte. Não é fácil. Pode parecer, mas não é. É a música que a letra pede, e sãos as letras que a música precisa. É este casamento que não acontece muitas vezes. Mas quando acontece, eu começo os artigos com a expressão “Wow”! 

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Em 40 anos Gimba fez de tudo um pouco

Músico, trovador, autor, produtor, escritor, inventor do nome “Xutos&Pontapés”, Gimba trabalhou com artistas como Boss AC, Deolinda, Tim e José Cid. Fez música para programas de televisão, cinema, além de vários trabalhos em rádio, teatro e publicidade. Conheço-o principalmente pelo seu envolvimento com Os Irmãos Catita e Ena Pá 2000, de Manuel João Vieira, nos anos 90. Apesar dos cerca de 40 anos de carreira, Gimba só tem mais dois discos em nome próprio: “Funky Punky Trunky” e “Pornogal”.

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Foto: © Rita Carmo

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