Bezegol e Marcelo D2 partilham o trono no último dia de Monte Verde


O cansaço estava a acumular-se, os festivaleiros não são de ferro. Mas era impossível não pular, não dançar, não curtir até cair no último dia do Festival Monte Verde – valeu aquele último esforço!

O homem que não se sente um mensageiro passou a mensagem. Passou a mensagem que Portugal é um só, passou a mensagem que é possível dar um espectáculo incrível com apenas três vozes e uma mesa de mistura. Mas a maior mensagem foi mesmo a sua música de intervenção, as suas letras, a sua poesia do dia-a-dia do comum mortal. Bezegol veio do Porto e trouxe na bagagem uma das melhores actuações do Monte Verde 2015.

Aquela voz rasgada varria a plateia e atingia a alma dos muitos festivaleiros que meteram o pé no maior festival micaelense, num espectáculo que tirou o melhor que a música pode dar: a mensagem e a alegria, a festa. O uníssono entre artistas e público foi tão evidente que Bezegol teve que mandar embora os técnicos que já desmontavam a mesa de som e tomar conta do palco por mais uma música não planeada, o que só podia resultar na felicidade de toda a gente.

Depois do músico portuense, a difícil tarefa de voltar a pegar naquele público era de Marcelo D2. Mas “nada o pode parar” e assim que debitou as primeiras rimas, já todo o mundo vibrava de novo. E se Bezegol deu um mega espectáculo com recurso à simplicidade, Marcelo trouxe a malta toda e encheu o palco do Monte Verde numa actuação de uma consistência incrível, espelho dos muitos anos de estrada, da experiência e da mestria do músico carioca. Espectáculo que incluiu um beatbox que seria até capaz de salvar uma noite arruinada por uma falha de som: “O Fernandinho vai aguentar a festa” com passagens de The White Stripes e de Michael Jackson, com o público na mão, agarrado apenas pelas suas cordas vocais.

A fusão entre o hip hop e o samba – “coisa de malandro” como diz Seu Jorge em mensagem gravada e reproduzida em palco – é a maior singularidade de Marcelo D2. O músico consegue tirar o melhor de dois mundos, levar toda a gente a dançar aqueles ritmos quentes enquanto debita rimas de palavra assertiva, em que o português nunca é usado em vão. Parece que continua à procura da rima perfeita, numa infinita busca do que esperamos ser inalcançável. Se é a procura que o move, se é a procura que nos traz Marcelo, entramos no jogo e fazemos a busca com ele.

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No último dia de Monte Verde houve também tempo para Generation Gap, projecto micaelense em que o DJ Matti leva o seu pai para trás do deck e faz uma viagem pelos grandes êxitos musicais das últimas décadas. Num espectáculo apoiado por músicos convidados a cantar e a tomar conta da precursão, esta foi uma das mais interessantes e ecléticas actuações de Disc Jockeys de todo o festival.

O Monte Verde Festival 2015 chegou ao fim. Três dias repletos de boa música, de boas vibrações e de muita festa, naquela que talvez tenha sido a melhor edição de sempre do tão jovem festival micaelense. Se há melhorias a fazer? Há sempre, mas a evolução constante por parte da organização é notável. No momento em que o menino começa a ganhar uma verdadeira identidade, está-se a construir um possível marco nos festivais de verão do país, sempre com os pés bem assentes na areia. Para o ano há mais!

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Fotografia: Carlos Melo

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