“Blackstar” é o ‘requiem’ de David Bowie


O ano de 2016 começou com uma grande perda para a música. O mundo privou-se de David Bowie, falecido dois dias depois de ter feito 69 anos. Dos artistas mais duradouros da cena musical – 52 anos de carreira e 27 álbuns de estúdio, uma média impressionante de mais que 1 álbum a cada 2 anos – Bowie inventou-se e reinventou-se ao longo dos anos, merecendo justamente o epíteto de “O Camaleão”. Deixou-nos o seu último álbum, “Blackstar”, lançado no dia do seu sexagésimo nono aniversário, como uma espécie de ‘requiem’ de autor, como uma nota antecipada da sua partida.

Aliás, ‘Blackstar’ está recheado de referências à morte e à vida após a morte. O próprio tema “Lazarus” vai buscar o nome a um personagem biblico (Lázaro) que é conhecido pelo facto de ter morrido e ressustitado, e o videoclipe retrata uma imagem de Bowie morto com moedas nos olhos. Claramente, uma referência a Caronte, o barqueiro da mitologia grega que levava os mortos através do rio Estige. A própria letra “Look up here, I’m in heaven… Everybody knows me now”, dá a ideia de que Bowie já antevia a sua morte. E “everybody knows me now” reflete exatamente o fenómeno que tem ocorrido nas redes sociais, de ‘posts’ sobre Bowie.

Enfim, “Blackstar” é um álbum mais experimentalista do que os seus antecessores. Talvez tenhamos de recuar mais de 20 anos para encontrar algo semelhante na sua carreira. ” ‘Tis a pity she was a whore” é um tema liricamente cru, basta traduzir a letra para perceber isso e nota-se uma forte influência jazzística.

Curiosamente, o álbum consegue soar a Bowie, sem que isso de soar a Bowie exista. “Sue”, “Girl Loves Me”, “I Can’t Give Everything Away” bem podiam ter saído de outros álbuns dele.

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