Budda Power Blues aqueceram o Caloura Blues


“Lord, I feel so blessed right now”. As vozes em harmonia, numa toada lenta, emotiva e em crescendo, fizeram jus à imponente escarpa que abraça a Baixa d’Areia, que acolheu o Caloura Blues. Em cima do palco, Budda Power Blues, acompanhados por Maria João, uma das mais reconhecidas cantoras de jazz portuguesas, que, sem abandonar o seu estilo peculiar de improvisação, mostrou o poder, a versatilidade e a amplitude da sua voz a cantar versos e refrões com palavras (quem ouviu a Maria João anteriormente, percebe que não há redundância nesta frase).

Chegaram ao Caloura Blues com o rótulo de “melhor e mais importante banda de blues nacional” – é o que diz o site da banda –, e é capaz de haver verdade na frase, apesar da presunção que carrega. A potência sonora do power trio – guitarra, baixo e bateria – e o seu entendimento musical mostram muita experiência.

 

Mas, como no blues a guitarra é rainha, não posso deixar de salientar o som cheio e saboroso da guitarra de Budda Guedes – na verdade a guitarra até era de Vítor Bacalhau, que viria a tocar no dia seguinte, mas isso é só um pormenor. A distorção e o timbre da guitarra elevam a mestria de Guedes a um patamar superior.

Apesar do magnetismo natural de Maria João, que atrai a atenção, a voz do frontman da banda, Budda Guedes, não passou despercebida: que potência e sentimento.

O concerto centrou-se no recente álbum que os Budda Power Blues e Maria João gravaram em conjunto, e terminou com um ‘mashup’ – uma forma moderna de dizer que as duas músicas foram misturadas – de “Whole lotta love” e “I Just Want to Make Love to You”, dois grandes clássicos que fizeram muita gente cantar e dançar.

Se uma noite apenas não é suficiente para avaliar um festival que se estende por três, um concerto ainda é menos representativo, mas o concerto de Budda Power Blues – o único a que tive oportunidade de assistir – é suficiente para ter a certeza de que valerá a pena estar na próxima edição do festival.

Com um recinto espaçoso, bem organizado, bem decorado, e limpo (incluindo os WC!!!), e uma boa oferta musical dedicada a um género de música específico, mas abrangente, o Caloura Blues vincou as suas diferenças e marcou o seu espaço no panorama dos festivais de música de São Miguel. Embora ainda haja margem para crescer bastante, e melhorar alguns aspetos, é fundamental que o festival crie uma mística própria, e não se deixe ´plastificar’.

////

Foto: © Direitos Reservados

+ There are no comments

Add yours