Cartaz da Maré de Agosto com elevada qualidade


A Maré não desilude, a Maré surpreende. É sempre assim. Ano após ano, o cartaz deste que é um dos mais antigos festivais de verão do País – que se realiza este ano pela 31ª vez – consegue sempre apresentar um vasto leque de culturas e estilos musicais, sendo a qualidade musical a grande linha orientadora.

Passar no recinto da Maré de Agosto no mês de Julho – situação que vivi há poucas semanas – não só é nostálgico, como também é uma forma de perceber quão pequeno é o espaço, e quão bom é ter um festival com uma qualidade musical tão elevada, uma energia fantástica, em que há espaço para dançar sem empurrões, há espaço para estar realmente perto do palco sem dificuldade, em que não há filas intermináveis para ir ao bar ou para ir à casa de banho, e em que há um anfiteatro natural para quem prefere ver os concertos sentado, ou mesmo deitado.

Saber que há uma praia paradisíaca a dois passos de um parque de campismo que – com a excepção da falta de sombra para as tendas – tem excelentes condições é mais um atrativo deste festival especial que faz parte da vida – actual ou passada – de muitos açorianos, especialmente de Santa Maria e São Miguel.

Mas deixemos a nostalgia e vamos ao que interessa: prepare bem a sua ida para o recinto, verifique se a carteira tem dinheiro suficiente, confirme se tem bateria no telemóvel, e tenha a certeza se a roupa que tem vestida é mesmo a que lhe vai apetecer usar até à manhã seguinte, porque não vai querer perder qualquer concerto!

Começando pelo fim: as últimas bandas a subir ao palco em cada uma das noites de festival são dinamite à espera de provocar descargas de energia verdadeiramente explosivas.

A presença de reggae no cartaz da Maré de Agosto é quase ‘obrigatória’, e este ano, a tarefa de trazer a música jamaicana aos Açores cabe a Protoje & The Indiggnation (na foto de destaque), que encerra os concertos da primeira noite. Protoje faz parte de uma nova geração de músicos jamaicanos que está a desenterrar as raízes do reggae, voltando a uma abordagem mais orgânica e crua do género.

Do Festival Eurovisão da Canção para a ‘ilha do sol’ vêm os Koza Mostra, a banda grega que alcançou um surpreendente sexto lugar do conhecido festival televisivo em 2013 traz mala um conjunto de géneros musicais que são sinónimo de festa e poeira no ar: ska, balcã, rock, punk e rebetiko (música tradicional grega).

A grande surpresa do festival está reservada para o fim. Se o reggae e a mistura de ska com outros géneros musicais são formatos com que os ‘habitués’ da Maré já estão familiarizados, aquilo que os Kissmet vão levar a palco será um momento de descoberta. Vestidos a rigor, com túnica e turbante, os Kissmet misturam a música tradicional da Índia – o Bhangra – com o rock dos anos 60 e 70, privilegiando a interacção com o público. Um concerto a não perder.

Como não podia deixar de ser, a música portuguesa tem também lugar na edição deste ano da Maré, com o destaque a ir para o consagrado Sérgio Godinho. Sobem ao palco também as rimas em português de Capicua, o folk dos Brass Wires Orchestra, e a percussão criativa dos Crassh.

Talvez venha a não ser muito valorizado pelo público mais novo, por fugir aos ritmos típicos dos festivais de verão, mas Michael Kiwanuka será, por ventura, aquele artista que dentro de alguns anos muitos poderão dizer que viram na Maré, e que poderá alcançar um patamar a nível internacional que torne o seu regresso impossível. O músico britânico – com um talento enorme para escrever canções que podiam ter sido lançadas pela Motown no seu auge – está em fase ascendente na carreira.

Onde estão os artistas dos Açores?

Durante muitos anos – mesmo depois de a Maré de Agosto já ser um grande festival – havia, por parte da organização do festival, a preocupação de procurar pelo menos uma banda ou um artista açoriano de qualidade para integrar o cartaz. Lembro-me de vários que passaram pelo palco principal, como Eyeless, Ronda da Madrugada, Zeca Medeiros, ou Susana Coelho, proporcinando excelentes momentos. E se, durante algumas edições, as bandas açorianas foram empurradas para o palco alternativo, e para actuar durante a tarde, neste momento, fica a mágoa de ver que não tem havido esse interesse por parte da organização em valorizar o que de bom se faz por cá. Não é por falta de qualidade das bandas. Porque será?

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