Copy & Paste


* texto de Paulo Simões (diretor do Jornal Açoriano Oriental)
Fazer um cover não deveria ser um mero exercício de “copy & paste” musical, como acontece com a quase totalidade dos projetos musicais que se dedicam a imitar os outros.
Dos inúmeros casos de gente que soube pegar numa música de outro e dar-lhe a volta por completo, ao ponto de a cover ser considerada melhor do que o original, destaco a magistral versão de “With a Little Help from My friends (dos Beatles), assinada por Joe Cocker. Se não sabem do que estou a falar socorram-se do youtube.
Por cá a receita é simples: junta-se um grupo de amigos, escolhem-se umas malhas “orelhudas”, fazem-se uns ensaios e toca a rodar pelos bares da ilha. Sem qualquer preocupação de inovar, de incutir um cunho pessoal nas músicas, de tentar acrescentar algo à Música.
Quase todas as bandas desta terra têm um ponto em comum: querem todas tocar o mais igual possível ao original. E como se isso não bastasse para atestar o marasmo musical em que vivemos, há músicos que chegam ao cúmulo do ridículo de tocarem covers de covers!  Santa paciência!
Onde está a criatividade dos nossos músicos? Onde anda a alma musical destes tocadores de instrumentos? É muito pobre o cenário da música moderna que se faz (?) em São Miguel.
E já que estamos com a mão na palheta, alguém consegue explicar o mistério da falta de imaginação? Por que motivo os nossos artistas de covers acabam por se copiar uns aos os outros, tocando temas repetidos e caindo no ridículo extremo de se acusarem mutuamente de “plágio”!
Não basta tocar e cantar bem, saber música, é necessária uma certa rebeldia e irreverência intelectual, aquilo a que muitos poderão chamar de “espírito de artista”, para se conseguir criar s.l.
Infelizmente o panorama da música moderna em São Miguel é tudo menos criativo e moderno. Ouvimos as mesmas tretas de sempre, os hits do passado e/ou as melodias xaroposas que enchem os tops de hoje. Já nem peço músicas originais de raiz mas que, pelo menos, peguem num tema de outro e o desconstruam, dilacerem, virem ao contrário e assumam como seu. Com garra, com energia. Seja rock o que lhes corre nas veias, ou música eletrónica, criem. Não tenham medo da crítica.
Existem exceções, e ainda bem, mas contam-se pelos dedos de uma mão os projetos musicais que conseguem resistir ao copy & paste” das canções dos outros.
E volto ao início: há espaço para música nova nos Açores, não há paciência para ouvir mais do mesmo.

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