Cult Of Luna – Vertikal


“A bela e o monstro”. É a expressão mais direta e sem rodeios que consigo encontrar para descrever os Cult Of Luna. A banda sueca é uma das mais conhecidas no ramo do post-rock e sludge-metal, para quem gosta de rótulos. Com uma mistura deste calibre o que podemos esperar é uma aliança, por um lado, de singelas e bonitas melodias e, por outro, de vozes guturais e passagens extremamente pesadas onde ritmos repetitivos e intensos marcam a diferença. Na minha modesta opinião, entre todas as bandas do género estes suecos são os que conseguem dosear ambas as vertentes da forma mais perfeita possível, qual alquimista em busca da fórmula secreta para transformar objetos em ouro.

Vertikal é o sexto longa-duração da banda e é, de facto, puro ouro para os tímpanos dos amantes do género. A banda admitiu que o conceito do álbum revolve em torno do filme Metropolis realizado pelo austríaco Fritz Lang em 1927. Para quem não conhece o filme a ação decorre numa era futurista onde são evidentes as desigualdades entre os mais abastados e a classe trabalhadora, escravos dos ricos que trabalham incessantemente para que a cidade não pare. Há, no entanto, a vontade da classe operária em que as diferenças se dissipem através da esperança cega num Mediador que virá salvá-los. No entanto, a determinação do líder da cidade em que tal não aconteça é materializada através da infiltração de um robô na comunidade dos operários de modo a desvalorizar o respeito que estes exigem e, assim, relativizar as suas reivindicações e as suas próprias existências. Contudo, a esperança de tempos diferentes está presente através da paixão nutrida pelo filho de um senhor poderoso por uma das servas que conhece no “submundo”. Onde é que já vi isto? Esse tal de Lang era cá um visionário…

Bem, mas vamos ao que interessa, a música. O álbum inicia-se com “The One”, uma breve introdução atmosférica e repetitiva que dá a cheirar um pouco daquilo que poderemos ouvir nas faixas seguintes. “I: The Weapon” irrompe de seguida com vozes viscerais como que um apelo à liberdade. As guitarras ritmo bem pesadas e distorcidas e as teclas a marcarem presença ao incutirem uma roupagem mais dramática. “Vicarious Redemption”, a faixa mais longa do disco com quase 19 minutos de duração, é uma obra de arte per si que se faz revestir de uma atmosfera sombria e melancólica no início para dar lugar a mais uma revolta interior. Atrevo-me a dizer que é uma das melhores músicas criadas pela banda até à data. “The Swell” funciona como que uma breve ponte em que os sintetizadores são quem mais ordena mas onde a intensidade não é afetada em nada. “Synchronicity” é o perfeito exemplo dos ritmos distorcidos, declaradamente mecanizados, repetitivos e veementes que poderiam ser perfeitamente a banda sonora de uma qualquer fábrica industrial de maquinaria pesada. “Mute Departure” segue os passos de “Vicarious Redemption” com as guitarras e a bateria a criarem um ambiente atmosférico onde as letras antecipam uma certa expectativa ou alento futuro. É, provavelmente, a faixa mais diversificada do álbum com vários breaks pelo meio intercalando energia com bonança. De repente chegamos a “Disharmonia”, uma breve passagem instrumental de 45 segundos que dá lugar à verdadeira barreira de som que é “In Awe Of”, mais um exemplo da perfeita conjugação de géneros proposto pela banda. Finalmente, “Passing Through” encerra de forma melancólica e soturna mais este capítulo dos Cult Of Luna.

É muito difícil e injusto escrever sobre este ou qualquer outro álbum desta banda de Umeå. A complexidade e diversidade de ambientes criados conjugada com a simplicidade dos processos usados para criar a música contida em Vertikal é uma demonstração cabal da inteligência e capacidade da banda em fazer aquilo em que são exímios: música sem barreiras e que se demonstra como um desafio para qualquer ouvinte.

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